quarta-feira, 22 de julho de 2015

Urbanos

Enquanto eu olhava pro chão, paralisada, ela passou por mim e cantou um trecho da canção que eu tinha escrito antes mesmo de seu nascimento. Seu jeitinho de me agradar, tentando me trazer de volta pra essa vida, pois sou eu quem vai lhe influenciar. Segui pasmando, imobilizada pela sensação de impotência, nos meus sonhos me perdia em vagarosa resiliência. Mais tarde sentei de frente com ele e apenas chorei, mostrando a ferida, o machucado, a dolorida topada do seu fruto que deu errado. Sem reação, frustrado, depois de toda vida depositando suas fichas, atenções e sem ver resultados, silencio no carro. Entra em casa de rosto inchado, é o amor da vida da vó, um ser sofrendo que passou a vida chorando calado. Então ele que é frio e seco, o errado que ninguém quer escutar, o marido de duas mulheres, o pai que nunca deu atenção, faz carinho na minha cabeça, pega na minha mão, conta a historia da vaca que dava leite e queijo a um velho no sertão, um sábio mata a vaca, anos depois o velho tem gigantesca fortuna e plantação... uma lágrima corria nos olhos do meu avô, ao ver meu pranto e sofrimento... eu vi o mais velho dos urbanos lamentar o meu lamento.

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