quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DESCE

Eu agradeço
pela força da paz que será duradoura,
pela calma que irá me alcança (mesmo que eu corra dela). 
por perceber cedo, antes que seja tarde.
pelos vazios que não vou tentar preencher (até que sumam).
por saber que o tempo é ilusão e que só se leva o que se aprende.

Sou grata pelo perdão,
por saber perder,
perder o orgulho,
perder o medo,
perder o jogo sujo da ganancia e do desejo.

Dou graças pela libertação
das felicidades efêmeras que se esgotam,
das coisas que roubam a vida,
o brilho, a energia,
que nos tiram do verdadeiro desafio,
da verdade, da evolução.

Eu agradeço ao renascimento,
agradeço por poder reencontrar os meus,
e desfrutar dessa alegria com saúde.
enquanto eu só agradeço, pela paz que me alcança,
pela minha mudança, por essa leve realidade.
chamo a graça, ela desce, fica e permanece.
amém

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Gestação

Tinha que ir, não queria passar a eternidade ali empacando e ameaçando explodir. Acontece que ela já tinha implodido pra dentro de mim e num furor delirante me desconstruiu. Em volta dos cacos, admirando os estragos, eu sabia que de alguma forma precisava recomeçar e que jamais seria como antes. A tentação ria da paciência, aquela que eu não tinha.

O tempo parecia voar, tamanha a velocidade das manifestações atraídas pelos meus pensamentos; Que delicia projetar, sonhar, pena que não duravam as expectativas e me sobravam frustrações ao constatar que todos os outros se mantinham anestesiados, mascarando a dor e se mantendo distantes o suficiente para jamais terem que sentir nada. Eu costumava curtir e aproveitar, sentir e não saber negar, dizer sem querer dizer, me esforçando pra disfarçar, mas sempre garantindo para o conforto de todos que eu não iria ganhar.

Afinal, aprendi que pra alguém ganhar, alguém sempre tinha que perder e escolher é perder, não é mesmo? Nunca quis jogar, nunca me animei em competir, eu esperava um mundo onde os nossos sonhos pudessem coexistir, mas certamente o mundo ainda não era esse. Meu espírito cheio de valores diferenciados, se prontificava como voluntario, arrogante e prepotente, se sentindo forte o suficiente pra perder mais essa e mais outras. Poderia ser só nobreza de alma, dizendo que a felicidade do outro era mais importante que a minha felicidade, mas no fundo eu apenas temia que jamais pudesse ganhar. Quando me dei conta de que este seria o cenário, e que eu assistiria de camarote outras pessoas vivendo todos os meus melhores sonhos no meu lugar, senti a primeira contração;

Não tinha como não ser insuportável, não tinha como ser leve, por mais nobres que fossem meus ideais, as minhas dores eram viscerais, eram dores de parto, do meu próprio parto.

Não poderia lutar contra a natureza, e ela estava impondo que eu já estava no ponto; havia acabado a fase de reclusão, de projeção e sonhos, era hora de voltar a viver! Por mais que o meu corpo quisesse permanecer confortável, longe dos erros, o pensamento já tinha escapado e um pensamento assim ninguém tinha o poder de frear, era o fim de uma gestação. Estava nascendo de mim mesma e as contrações do ventre que agora era sufocante, me empurravam mundo afora, mundo este que eu não queria fazer parte.

Mesmo a contragosto, eu via a luz no fim do túnel e havia coragem nela; haviam novas ferramentas de uma desconstrução pesada que ainda me acompanhava; havia muita vida pela frente; havia um pouco mais de paciência e uma crescente gratidão por todas as coisas, principalmente as doloridas, solitárias e difíceis. Enfim me entreguei e fui com fé, ainda a tempo de constatar que o próprio amor talvez fosse um parto, e que talvez alguém estivesse me esperando fora da minha zona de conforto, aguardando ansiosamente a minha hora de chegar, com um amor genuíno que pousaria os olhos em mim e diria sem falar: "Bem vinda, não aguentava mais de tanto te esperar!"

terça-feira, 13 de outubro de 2015

rebobinar

Estava com dores, mas não chamou o doutor, ao invés disso enfiou o dedo na goela do aparelho e constatou que a fita havia emperrado. Deu play, mas a história permanecia travada, tentou avançar, mas o botão “fast forward” estava gasto e quebrado. Então era isso, ou continuávamos no pause, ou aceitávamos que havia chego a hora de retroceder até o inicio da historia e devolver o clássico a quem quer que tenha sido o locador.

Os presentes um tanto ansiosos por algum entretenimento, teriam que esperar e se contentar com o avanço invertido, a fim de ver o fim do mundo como o começo e o surpreendente inicio como o fim da historia. Como iriam continuar a viver fingindo não saber? Teriam que se esforçar ou tentar esquecer! 

Vivenciavam o sentimento de devastação e pós guerra que o final proposto começava a deixar, se sentiam assim pois provavelmente eram os protagonistas daquele filme. A historia contada remexia as entranhas e fazia com que se identificassem de maneira complexa a ponto de incorporarem os personagens e seus trejeitos, como se estivessem se recuperando de uma amnesia coletiva, assumindo silenciosamente os personagens e as memorias que eles mesmos criaram.

Os mais sensíveis foram os mais lógicos, logo constataram que nada faria sentido e o melhor a fazer era se entregar, mergulhar na experiencia para qual não haviam se candidatado. A historia se desfazia, partindo do principio onde tudo acabou e seguindo passo a passo os frames com cronologia regressiva de dias melhores, onde toda harmonia se sustentava com a inocência e com o desconhecimento de que a felicidade sempre foi uma ideia criada a partir dos sonhos. 

Na tela brilho nos olhos, na vida saudosismo, vergonha e desunião. O que não construía desconstruía e destruía mais ainda. Como era catastrófica a ação do tempo, olhar o passado confirmava que o que está mudado não voltava, tal como a água do rio que segue sem olhar para trás. O que não havia se realizado ou concretizado, era sujeira parada nas curvas do rio, o que era concreto avançava em frente com total força.

O relógio no visor regredia e eu aguardava ansiosamente pelo marco zero. 
A ansiedade não era pelo fim, o fim era só um meio, um dolorido processo, porém necessário para chegar ao recomeço. Era essa euforia que me mantinha como uma das poucas pessoas de olhos abertos. A ideia de recomeçar, viver algo novo, refrescante, isso me animava quase a ponto de esquecer pelo que estávamos passando.


Era necessária a consciência de que não podia mais lidar com tantas coisas pela metade, tantos "e se", tantas historias sem final, tantos enredos largados a própria sorte. Enquanto assistia a jornada retroativa, desejava partir com um grande cesto e recolher os arrependimentos das possibilidades que eu não soube viver. Eu sentia muito, mas queria ser como o rio, que parte sem olhar para trás. Tentava não me enganar, mas para a maioria de nós o melhor momento era sempre o de dizer olá e também o de dizer adeus. Os poucos momentos onde podemos trocar beijos e abraços efusivos, aceitando o contato e quem sabe até deixando escapar algum sentimento que vaza com a emoção. Nossas relações são por educação, motivadas pelos costumes que herdamos, se o motivo fosse o da própria vontade humana, que tanto nos empenhamos em esconder, viveríamos entrelaçados, mas não vivemos.
Já havia me colocado no lugar deles, já tinha me colocado no lugar delas, já tinha me colocado no lugar de cada um naquela sala, e o meu assento no chão frio, não era menos desconfortável que a poltrona de veludo ou a cadeira de madeira. Não existe um bom lugar para assistir uma desconstrução, por isso, ao acabar a sessão cada um se retirou a própria reclusão, não em busca de uma conclusão, mas sim afim de evitar alguma confusão de ideias. O comandante reuniu as entidades e anunciou o fim, apenas um corpo era a nave, e o corpo nave merecia descanso antes de finalmente partir para a próxima jornada.


00:00:00
ao ejetar o objeto do aparelho pode-se ler:
Rebobine antes de devolver.



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Amardura

Que paradoxo vivo,
tanto falar da vida, tanto resistir viver.
Pensando vive uma vez, falando três, fazendo mil.
As ações interpretam os astros,
arianos que persistem mas resistem a tudo.
Seria tanto cuidado possível prova de um aprendizado?
Pra quem tanto tem se preocupado em não iludir,
acabar sendo iludido é um erro fatal, desequilíbrio puro.
A resistência as vezes é só excesso de cautela,
acabamos cegos e travados, bloqueados e paralisados.
O corpo acaba estressado com a falta de fluidez,
a doença chega em forma de intoxicação por frustração;
Uma diarreia se encarrega de levar o medo embora
e a resistência finalmente cai, deixando que a sombra faça valer.
O corpo precisa se purificar de tanto mal que fez a mente ao coração.
Espirra, tosse, tem febre, tem dor, quer deitar, quer mas não quer reagir,
quer que vá embora, mas compreende que precisa sentir.
A mente já estava sofrendo, e fez questão que o físico sentisse na pele.
É como quem diz: "Compreende? Entendeu agora?"
Aquilo que não nos faz bem não deve penetrar o miolo,
a oração sempre disse "afaste todo mal",
então por mais que endureça essa casca,
tem sempre que lembrar que o cuidado que a gente toma,
talvez ninguém mais esteja tomando.
Todos conhecem os rótulos das garrafas,
são apenas escolhas, e você já fez a sua.
É fé demais que tudo que vai volta,
mas não se entregue assim ao destino,
não ande tanto por ai, não sem uma armadura.
Sim...arma dura!
Dizem que a defesa as vezes é o melhor ataque,
mas pra quem acredita tanto no amor,
o melhor remédio e a melhor filosofia sempre será amar...
Fica muito mais agradável de se falar:
amar dura!
E dura muito mais se amar a si mesmo,
se espelhar nos outros pode gerar muita amargura.
Por mais que ainda não conheça,
talvez precise achar uma energia mais parecida com a sua,
algo maior, uma sintonia igual, que deixe o fluxo normal.
Se tá difícil levantar, esquece a voz que te faz ficar
e procura a mão que ta tentando te puxar.
Amar vai durar, é isso mesmo que você quer que dure?

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Com Vontade

Beijar o infinito e além,
além dos nossos corpos,
na verdade além dos meus sonhos,
afim de alcançar sua alma,
de olhos fechados sentindo por completo,
beijando toda a falta de fôlego por essa união.
Beijar sabendo que tudo nessa vida é breve,
principalmente quando existe a força da explosão.
Sem palavras ou arrependimentos,
despejando no teu jarro todo esse sentimento.
Eu te beijaria com a força do vento,
te amando além do tempo.
Te beijaria como o fogo que explode,
queimando e ardendo uma chama colorida que não morre.
Beijaria com a magia de toda vida
que nasce e se cria nessa terra,
mergulharia em você para beijar suas mais profundas emoções.
Te beijaria aqui e agora, te beijaria no passado, a qualquer hora.
Te beijaria por vontade, por saudade, por necessidade.
Não seriam só beijos de vaidade ou de amizade,
não seriam só beijos de pura verdade e seriedade,
a diversão não se compararia a imensidão do que faria por nós essa paixão.
Nossos lábios dividiriam um grande segredo,
e as línguas entrosadas jamais sentiriam o medo.
Tudo isso no tempo certo, a qualquer momento, mas enquanto não sei se está perto, evito o tormento, escrevo e me aguento.

leonino

gostava do seu gosto pela vida, mesmo que gastasse ele nos bares
ou correndo na rodovia acima da velocidade permitida.
gostava do seu gosto, do seu beijo forte,
do seu carinho manso, do seu tamanho.
gostava do seu peito largo e da pele marcada de tinta,
das conversas indiretas sobre o futuro, de transar no balcão,
na caçamba da caminhonete e outros lugares nos meios dos caminhos.
gostava de acordar no conforto da sua pele, ainda sem estar intoxicada
mas quase enjoada do quanto seu cheiro não me embrulhava o estomago.
Nunca suportei o como eu podia me atrair pelo jeito bruto,
as brincadeiras de moleque que contrastavam muito bem com seu jeito doce.
Eu sei que foi orgulho, da minha parte e da sua, ficou muito clara essa parte...
mas foi por esse mesmo motivo que deixei você me conquistar,
sabia que você era como eu, e era muito bom me ver em você.
nunca cheguei tão perto de admitir que estava apaixonada por um cara,
talvez não fosse mesmo o momento certo, mas passou muito perto.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Bola de Cristal

Muito absorver porem lentamente processar, algumas de nossas habilidades podem vir a se tornar fardos. Aleatoriamente perspicaz, com muita ajuda das vozes que falam na mente, crio uma ótima leitura corporal que faz previsões, não são acertos ou profecias, mas se algum dia tivesse levado jeito pra matemática diria que talvez seja um dom de calcular probabilidades e talvez, apenas talvez eu realmente seja boa nisso.
Com breve vantagem de tempo sobre os eventos futuros, me adianto a avisar, porém nem sempre chego a escutar ou processo o tempo de reagir. Dadas as possibilidades nem tento, mas dados os sinais muitas vezes prefiro me enganar. O que acontece é um eterno dizer de dentro: "Eu já sabia, mas como diabos eu já sabia?"
Saber não se limita a ter certeza, saber simplesmente é saber. Não existe um quadro pintado, não existe uma sentença pronta, porém quando chega você sabe que já sabia. Nessas horas da pra chegar a duvidar que essa vida é real, é aquela epifania louca de achar que essas pessoas nem são reais, porque elas estão ali naquelas situações que parecem que foram montadas pra você viver, poderia ser o roteiro de um filme construído com base nos doze estágios da jornada do herói.
Mas já está estampado nos ouvidos que o futuro repete o passado, então a habilidade de reviver talvez seja só mais um item comum e ordinário no nosso kit humano, tal como a mania de querer ser especial. Bem que eu queria ter a minha bola de cristal, física, palpável, infalível. Eu tenho intuições, e recentemente aprendi a usar o freio de mão dos meus desejos imediatos, isso mudou meu mundo.
Porém não adivinho pensamentos, muito menos tantos sentimentos, também não sei decidir perante as contradições e nas bifurcações me custa silenciar a mente pra ouvir o coração.
Ontem foi quinta, quinta é um ótimo dia para uma confirmação. Existiu um lugar no passado, uns meses de questionamento, uma duvida sobre a melhor escolha no melhor momento, e isso tudo eu jamais estaria prevendo, porém foi só escolhendo que pude chegar, e esse momento, esse lugar é exatamente o que eu queria estar.