domingo, 14 de agosto de 2016

agora em botafogo

-Parece com alguém que se perdeu do rebanho.
-E sou, me perdi.
-Existe sempre um caminho para quem se perdeu, basta encontra-lo. Não existe um lugar que gostaria de ir?
-Nem em vida, nem na vida após a morte...
-Talvez então tenha apenas se perdido de Deus.
-E você já se perdeu para saber? Já se perdeu de você? Das pessoas que ama? Perdeu a calma e a coragem? A vontade? Perdeu a alegria? Os sonhos, a esperança a ponto de sentir que foi Deus quem esqueceu de você e por fim...
-Ei, espere um pouco, nunca lhe disseram? Perca tudo, só não perca a..
-Só não perca a fé! Pois eu a perdi... que descuido de minha parte, não é? Perder as coisas assim...
-Pois te olhando confirmo e me agarro a minha própria, é mesmo muito perigoso perdê-la. Perder a fé leva a perda total do juízo, nem nos céus nem na terra, pra quem perder o juízo não existe salvação.
-Não faz muito tempo, eu já fui alguém que acreditava em tudo, tive excesso de fé, e agora a tenho escassa. Me devastou acreditar em tudo, pois agora me dou a chance de me devastar por não acreditar em nada.
-Em algo deve acreditar, não há existência que suporte a vida incrédula, todos acreditam em algo, que seja em exatas, que seja na vida material.
-Pois não acredito em mais nada, meus estudos espirituais me tiraram a crença da vida material, e a vida material me tira a fé da vida espiritual, vê? Estou no marco zero, me sobrou o nada.
-Acreditou em ilusões, a vida na terra é ilusória, mas é real, a ilusão pode ser verdadeira, é louco quem se importa apenas com a razão, como podem duvidar daquilo que sentem? Como duvidam da energia, da magia divina e da força maior que move tudo?
-Os sentidos enganam, estamos todos enganados, não há um ser vivo que saiba de fato onde vai, mas circula, pois a fé os guia, pois sem a fé se perderiam em si mesmos... E bem, eu já me perdi, quem sabe não seja um caminho sem volta? Um beco sem saída? Não há causa que me sopre a vontade da vida, não há destino que não termine fatalmente no nada e cada vez que me pego a acreditar em algo, me alcança a razão de que não vale a pena lutar. Assim estou agora, consciente de solidão e é isso somente, não acredito em deuses, deusas, destinos, sorte, azar, futuro, não acredito nos conselhos, não acredito na caminhada, não acredito em vocês, por fim, não acredito em mim. Quem não crê em Deus fatalmente deixa de acreditar em si mesmo e se não fui eu quem outro dia disse "temos o tudo e temos o nada, e somente existe o tudo, porque do outro lado da balança existe o nada", e foi a caminhada me levou ao outro lado da balança, o nada.
-Sinto que não devesse estar onde se encontra, caminhou para o nada antes de seu tempo, por isso se perdeu. Não acredita você que muitos sábios avistaram o nada mas escolheram a caminhada? Preferiram ir a algum lugar, talvez para não enlouquecer em meio ao próprio saber?
-Sei que sim, e caminhando tiveram duas opções: Tornarem-se santos ou tornarem-se hipócritas. Talvez tivesse eu até vocação para santidade, mas dentro de mim sempre me julgaria hipócrita.
-E não crê em destino? Que está conversa foi premeditada por algo maior? Me sinto aqui em missão de resgate, é maior que eu acreditar, querer acreditar, sinto que esta no meu caminho por alguma razão, testar minha própria fé, te tirar da escuridão a que se prende.
-Vem a mim em meio a sua estrada, tentas me convencer a caminhar junto a ti e muitos outros, convencido pelo medo que precisamos ser salvos, mas aqui estou me recusando a circular por ai, te digo que não há salvação, pois não há perdição, prevejo e garanto que se a vida eterna continuar, um dia provavelmente tornarei a circular, não por fé, mas porque a inércia ei de me cansar.  Existem estagnados e caminhantes, ambos alienados, tal como caminhantes e estagnados, ambos esclarecidos. Dos infinitos tipos de movimentos, das infinitas possibilidades de destinos e múltiplos planos paralelos que poderíamos estar vivendo, a asma da solidão adoece, por isso tantos fogem a consciência, se apegam uns nos outros para fugir do outro lado da balança, e eu poderia viver minha vida buscando o tudo, como todos, fugindo do nada, mas no fim, é aqui onde eu iria acabar. Não adianta apontar uma direção para quem não vê mais sentido em caminhar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

detrimento angelical

Acho que salientou o pudor ao se cobrir de mentiras, parecia mas não era, falsificou a própria pele, se marcou e se escravizou ao fingimento. Por fim se calou.
Esse é meu grito, não acredito que tem quem viva sem gritar.
Vi na ocultação do corpo o frio da mente, branco, puritano, vestido do social, corrompendo a pureza do espírito tribal. Existe algum espírito indomável? Acho que não.
Eles cobertos de razão, brincando de invenção, de inventar o descobrimento, cobrindo-nos para depois ter orgulho de seu atrevimento.
Nada pessoal, mas cada um de vocês é nojento, pervertido de julgamento.
vejo exposto por inteiro cada homem incompleto, desesperado por se completar corrompendo, manipulando, fodendo a força para impor a estrutura social, onde tudo é objeto e todos contra sua vontade estão em pecado carnal.
muitos são apenas resultado demente, agem como cachorros em busca do sucesso que vendem.  venderam sua alma ao seu deus,
o poder, o poder ter tudo que lhes convém.
o beijo na boca, o sexo anal, proibido por quem e para quem afinal?
se puder, cuspa em tudo que se intitula criação, novidade, no fim é tudo é produto social, ferramenta pra te escravizar. isso não resolvera nada, tão pouco te libertara, mas essa é a graça de ser um rebelde, irritar pelo prazer de irritar.
andam dizendo no comitê de reviravoltas que só quem obedecer ao diabo no corpo salvará a si mesmo e ao planeta terra. Sim, parece que o capeta é o fim da estrutura social, tudo que vem dele corrói a bolha do conformismo angelical. Parabéns a todos os endiabrados envolvidos. Parece pesado, mas até que é bem divertido.
 

jardine

pernas abertas de frente a um reflexo,  na analise detalhada da ponta do dedo o olhar curioso tocava as pétalas, as peles; provou o gosto, aprovou seu cheiro, dividiu seu sabor, chamou. eu abelha lhe sugava o sumo, o jardineiro semeava, hora florida, hora deflorada, hora colheita, hora terra arada, hora mel, hora picada, pra cada hora na natureza o instinto falava, na lua certa que  irradia, seu aroma inebriava, semi guiando pela energia, dando sentido ao jardineiro, dando propósito a abelha, será que é feliz essa flor? é de se preocupar o desaparecimento das abelhas, possuem elas importante papel na polinização.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

vigésimo sexto ano

Uma das minhas primeiras percepções como mulher que agora sou, é que nunca estive tão perto dos trinta, por isso a primeira atitude a ser tomada era aumentar o raio de interesse nas pessoas do tinder para até 32 anos. Me pareceu a atitude mais cabível já que tenho incapacidade de pensar em ter alguém ainda mais novo e irresponsável que eu ao lado, é isso né, gente adulta tem que ter adulto do lado, estar num mundo adulto com quem sabe das coisas que só quem já é adulto sabe, porque só se tornando tem como saber o que é ser adulto e não apenas jovem adulto. Concordo, tem jovens de 18 anos mais adultos que eu, nesse caso teremos que nos conhecer em outra rede social, espero que na rede social chamada vida. Fora a questão social, percebi que após abandona-lo aos 5 anos de idade, numa trágica e sofrida ida a praia com um maiô apertado, agora que tinha me tornado mulher estava novamente permitido o uso da peça, não vejo a hora de ficar sensual e mulher adulta dentro de um maiô. Acho que pressupus que a media de vida humana agora é 100 anos, por isso sabia que passar dos 25 era completar 1/4 da minha vida. Por um lado ainda tem coisa pra caralho pela frente, o que me tira o peso de muitas das aflições e ansiedades de completar as pressões sociais tão invisíveis e tão reais que inutilmente me perseguem, porque afinal sempre preferi uma boa aventura que uma boa chance de segurança e estabilidade. Nos meus últimos seis meses de 1/4 de vida eu vivi uma penca de coisa doida, solitária, profunda, conheci pessoas completamente aleatórias e maravilhosas que aprendi a amar, travei uma guerra contra tudo aquilo ao qual me amarrei, para ir em busca da tão filosófica liberdade. Uma das lições mais valiosas que tomei sem gosto: Somos todos escravos.
Escravos de ideais, desejos, sistemas.. estamos presos e na maioria das vezes a busca nos torna hipócritas. Mas não é porque temos nossas penitencias e cometemos nossos erros que a gente tenha que fazer disso algo pior do que realmente é... as vezes é mais fácil deixar os livros, os estudos, os trabalhos, tudo de lado e só jogar uma partida de candy crush, aceitar que você não tem poder, não tem liberdade, não tem chances, mas tem 8 vidas pra morrer em uma fase difícil e que aparentemente a quantidade de livre arbítrio que lhe cabe, permite que você desperdice seu tempo útil de vida com essa atividade que você msm julga inútil e esdrúxula, mas que mesmo assim pode ser muito bem acompanhada de brigadeiro, uma serie de tv aleatória que no fim das contas é um ótimo produto de conformismo do mundo que você vive e cumpre bem o propósito de te fazer sentir melhor com o seu vazio existencial. Tudo se torna mais simples na medida em que as suas expectativas abaixam, tem gente que fala que depois dos 30 é ladeira abaixo, ou depois dos 40, sei lá mano... Acho que as pessoas falam isso porque já começaram a subir o morro e já devem estar vendo o pico mais alto pra pensar na descida... eu sinceramente toda vez que começo a subir se pá dou uma fugida e deixo pra depois. Não sei porque, mas agora mesmo eu penso: "Não da mais pra fugir, nega.. chegou sua hora".. e deve ter chegado mesmo, talvez eu tenha me tornado mulher, me tornado não, acho que me fiz, fiz por onde.. andei um bom bocado, adquiri experiências interessantes, sinceramente estou orgulhosa, fiz um ótimo trabalho com o que tinha em mãos. Eu to feliz, me sinto de alguma forma realizada nessa etapa que correu, tenho certeza que o melhor ainda nem começou.

:)