quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Minha representação, sua autoria.

  O bafo da casa fechada me fez ir pra varanda. Imediatamente a brisa noturna me fez lembrar que troquei o dia pela noite, graças a essa sensação.
  Nasci com meu sol no signo do sol, mesmo assim troquei meu pai por uma mãe, passei a amar a lua e ser noturna! Alguém me chamou, senti no pontilhado brilhante do céu e no balanço das nuvens se separando, era a imensidão vindo contar: "São poucos admirando este momento, estão conectados. Ao contemplar o universo, olham o infinito de sua própria consciência".
Dez anos que meu relógio biológico se rebelou, a noite parece a mesma, mas não é! Naquele tempo me lembro de admirar a imensidão e sentir grande angústia com tamanha beleza. Eu era uma menina sentada na janela, com vista pra favela. Me apaixonei pela noite, essa angústia era normal da paixão, do vazio que era cheio, quase não cabia mais tanto silêncio, um oco redondo onde valia a pena respirar e viver. Vendo tamanha atração e magnetismo, um guardião me trouxe a poesia de companhia.
Tem sido assim: Eu, a noite, os sentimentos e as palavras!
  Não desvendei mistérios, certamente tenho criado mais que solucionado. Um professor disse certa vez: "só se é criativo solucionando problemas, não existe criatividade sem problema". Talvez eu tenha solucionado muitos e o fato é que eles nunca acabam!
  O aqui e o agora me trouxeram de volta, admirei o céu, esfriei o corpo sob a imensidão, ouvi o silêncio que a cidade faz quando dorme... parecia a mesma noite que a de dez anos passados.. mas era outra, eu era outra. "O tempo é a ilusão do ego"
Eu olhava o céu e o mesmo céu me olhava, nos olhamos por anos, aos olhos dele eu quase não mudava.
Eu contemplava o céu e o mesmo me contemplava, um era o outro e tudo se completava.
"Teu rosto representa o sol, seus olhos as estrelas do céu", este papel que represento a 24 anos, ele tem escutado mais o autor.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Presença de cinco em cinco.


  Quando entrou no trem, ele imediatamente fechou as portas e começou a partir, foi o tempo de você se virar para a porta de vidro e sorrir. Seu sorriso durou uns cinco segundos na linha do meu horizonte,  eu acompanhei o trem ir.
   Sentei no banco da estação e quis me pendurar naquele momento, ainda tinha comigo a sua presença, ela esqueceu de embarcar. Fiquei ali esperando o próximo trem, ia embarcar ela antes de ir pra casa.
  Durante os cinco segundos que sucederam eu engoli uma saliva forte da memória recente, era um gosto de salada de frutas, era gosto da gente. Senti com o corpo, era uma explosão forte, as cores saltavam dos meus olhos.
   Meu coração bateu no tic do relógio, Tac. O barulho do seu despertador, a perna lisa passando na minha, o vento entrando na fresta que você abriu. Seu beijo de cinco segundos na minha bochecha, ssssmack! Seus cinco minutos a mais de sono de beleza.
Me fez de pérola, foi uma ótima concha. Demorou no banho, me acordou pela terceira vez. O ônibus demorou, a gente se esquentou no ponto. Você passou a catraca correndo, o trem vinha vindo. Até semana que vem, corre. Tchau, te mando mensagem. Entrou no trem, se virou e sorriu cinco segundos na linha do horizonte,  que presença forte.