quarta-feira, 22 de abril de 2015

menino milagre

 Os dias passavam quentes e suados, mas naquela quarta tinha muita muriçoca na luz da sala, não tinha outra solução, fomos naquela praça do centro beber cervejas geladas. Eu, ele e a mãe dele. Conversamos enquanto degustávamos uma porção de batatas e litrões de cerveja. Ela contou que o nascimento dele foi quase um milagre, ele só olhava com os olhos brilhando pra mulher mais importante da vida dele, ouvindo sua historia em terceira pessoa. Depois de algumas cervejas, fizemos amizade com um grupo da mesa ao lado, uns caras ali do teatro que estavam com um violão. Ele pediu o violão emprestado e depois do primeiro refrão já tinha a atenção de um grupo de meninas, que olhavam encantadas o menino milagre tocando e cantando meia dúzia de versões próprias dos sucessos do rock alternativo. Eu deixava, não só deixava, adorava assistir, era a maior afetada pelo cara do violão.
 Oito semanas ficando, cinco meses namorando.
Eu era uma de suas maiores fãs e como grande fã, descobri cedo que não dava pra chamar aquele menino de meu. No começo tentei marcar território, odiava a concorrência, colocava na conta dele, cobrava, e ele menino lindo que era, pagava.
 Não demorou muito tempo, o brilho nos olhos dele foi diminuindo, o violão foi ficando lá encostado, e apesar de ainda ser um lindo menino andando comigo de mãos dadas, a graça que via nele se foi e foi porque eu egoísta tinha roubado. Transformei o menino rico de vida, em menino triste de alma. Respirei, calei meu ego e falei: "vai lá, deixa todo mundo te ver brilhar". No começo ele resistiu, tinha mesmo era medo de me machucar, mas a exemplo da mãe dele, eu fingi que não tinha medo ou insegurança de o ver partir e a confiança dele voltou, sendo livre pra encantar.
 Era quase meia noite, era uma dessas noites sensacionais de verão, a mãe dele compartilhou: "Que lindo milagre Deus me deu". 

 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Agora no começo, olhando ela sentada
tímida, sem muito o que falar
você percebe que não pode frear se apaixonar
 
mesmo sem pausa no assunto
o silencio oco interno te diz
que a química da energia vem antes mesmo de um beijo
ela te esquenta e desconcentra, é intenso desejo

um sonho lúcido, miração,
você já sentiu paixão?
seu coração pareceu descontrolar?
precisou desviar o olhar?
 
vicio no cheiro
querer as mãos na flor da pele
querer com gosto, o gosto doce da saliva dela
e não necessariamente querer a verdade da identidade. 

arrepiar no meio do dia
a qualquer momento
em qualquer atividade
quando a lembrança te invade.
é um choque de energia
é um vicio pior que crack.

só de pensar em se apaixonar
se apaixona pela possibilidade.

ela vai estar nas musicas que você vai escutar
na dor no peito que vai sentir
nos sinais que vai desvendar
na falta de serotonina quando pensar em desistir

e você não pode frear, a essa hora você nem quer mais fugir.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Coxinha!



Uma das coisas mais difíceis que eu já tive que aprender a fazer na vida  foi a coxinha!
Trabalhava em um café e tive que aprender a fazer todos os salgados, assim, do dia pra noite. Cada vez que abria o freezer e via um dos salgados acabando, eu tinha vontade de chorar.

Não nasci com um dom pra cozinhar, foi uma habilidade que tive que desenvolver na marra. O que eu sempre tive foi teimosia e acho que só por isso consegui sobreviver tanto tempo nas cozinhas. Mas organização, força, agilidade, destreza, humildade, foco e a habilidade de fazer coisas gostosas na velocidade da luz, isso eu tive que conquistar com muito suor, finais de semanas e feriados roubados, além de lagrimas, perda de peso, ganho de peso, vida do avesso e lagrimas, sim, muitas lagrimas, leves depressões, sonambulismo e alcoolismo.

O recheio tradicional da coxinha é peito de frango cozido, desfiado e temperado. Rapidamente você resolve o seu recheio e aquela massinha gostosa não tem muitos segredos, claro que as receitas variam, mas você consegue fazer ela com aguá, sal, um pouco de óleo e farinha... O problema dessa massinha gostosa, é que você cozinha ela na panela, e tem que mexer o tempo todo, pois ela vai grudando no fundo e você não pode deixar. Ela é PESADA, é uma coisa pra ser feita em duas pessoas no minimo, um segura a panela, o outro vira uma batedeira humana e quando cansar, reveza. A panela cabia eu dentro sentada, e muitas vezes eu fazia sozinha, tenho vontade de chorar por mim mesma, só de lembrar.

O ponto também não é dos mais fáceis, se ficar com preguiça e achar que ta bom só porque tomou forma, ela fica crua e com gosto de farinha, se não misturar bem, fica com pelotas de farinha, se cozinhar demais fica horrível, rachada e impossível de modelar. Basicamente, se você nunca fez, você dificilmente vai acertar antes da sexta ou sétima massa de coxinha que você fizer na vida (vamos deixar oito, pois é o numero do infinito e pode ser que seja esse o tempo que você demore pra acertar uma massa de coxinha). Ah, sim.. Aquela quantidade sem fim de massa não se enrola sozinha, assim que a massa esfriar a ponto de não tirar a pele da sua mão, é hora de modelar.

Como eu não acertava nunca o ponto da massa, modelar a coxinha conseguia ser mais sofrido que fazer a massa. Ficava super mole e na hora de por o recheio grudava tudo na minha mão, o formato refletia toda a tristeza que eu sentia por ser incapaz de fazer uma simples e humilde coxinha lindinha. As vezes enquanto tava tentando enrolar minhas coxinhas, tava deixando crescer massa pra fazer enroladinhos, hamburguinhos, esfihas.. não tinha fim essa historia de fazer salgados. E não pense você que se eu não enrolasse aqueles 4 kg de massa de coxinha, eu podia me trocar e ir pra casa e terminar no dia seguinte. NÃO DÁ, não é assim que funciona, assim que a massa fica pronta, um cronometro começa a rodar com o tempo útil de vida que você consegue modelar a massa de coxinha.
Lembro de um dia sentar no lixo, rodeada de coxinhas defeituosas e mais 2kg de massa para serem enroladas e chorar, apenas chorar, porque era só essa a habilidade que eu tinha na época. Lagrimas corriam silenciosas no meu rosto, eu nunca na vida nem tinha gostado de coxinha, porque passar por isso?

Ok, não era todo dia que eu tinha que fazer coxinha, mas até eu superar o drama de ser um fracasso, passaram quase dois meses. Eu aprendi um milhão de formas de não fazer coxinha, um milhão de formas de não enrolar, um milhão de formas de como acabar com isso rapidamente, e passei a fazer coxinhas muito bonitas até, além de bem gostosinhas. Anos depois tive inclusive a oportunidade de fazer coxinhas de pato (muito mais chique), mas hoje me apeguei e gosto mesmo de coxinha de jaca.

Não concordo em chamar certas pessoas de coxinha, elas sinceramente não valem as lagrimas que derramei pra aprender a fazer esse salgado tão amado e querido por todos (que além de tudo é sempre mais barato que todos os outros salgados, ou seja, humilde e solidário). As vezes quando alguém fala "você não sabe o valor das coisas, por isso não é apegada", a primeira coisa que me vem na cabeça são coxinhas, gente, sério, se vocês soubessem o real trabalho por trás das coisas cotidianas que tem na sua vida, tipo uma coxinha, uma casa limpa pela empregada, seus acessórios e roupas made in china, você teria vergonha de viver num mundo tão complicado onde o ter é muito mais importante que o ser.

Pra mim, ser coxinha é ser humilde, persistente, é ser forte, acessível, é fazer tudo com amor e cuidado, pra não jogar nem um tantinho de massa fora por incompetência, ser coxinha também é ser uma delicia, claro! Quando vejo uma pessoa chamando a outra de coxinha, pra mim é evidente que nenhuma das duas sabem o trabalho e o real valor de tal salgadinho. Quer ofender? Ofende, mas não ofende a coxinha, ela não merece ser comparada com certas pessoas.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

incômodo

Dotada da incrível habilidade de estar viva,
está bem mas não é saudável.
Arrasta os suspiros, alonga os bocejos.

Vem um sopro, um cutuco, um soco,
destrói a zona de conforto,
cria atrito, gera conflito,
incomoda e machuca.

Ela chora, pede pra parar!
Idiota, o mundo não gira a sua volta,
não da tempo de se lamentar.

Fica procurando o culpado,
mas ferida já estava lá
e ela não se cura só de esperar, desperta!


Passa o desconforto, passa o desespero,
vem a esperança, acaba o sofrimento
e com a força de quem aprendeu a apanhar,
se levanta pra vencer, com gana de mudar.

Aceita o tombo que doí menos,
levanta e aprende logo a amar.