quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Ritual no Astral

 Estava em outro plano me preparando para um ritual de cura, a concentração era essencial, tal como aqui, pois só assim era possível alcançar um estado de pensamento elevado para receber lições, aprendizados, enxergar as feridas e receber a cura para elas. Estávamos em poucos guardiões para receber os irmãos, nosso desempenho teria que ser redobrado.
 Muitas pessoas pensam que é necessário ser ascensionado para ajudar, que apenas quem está em elevadíssimo estado espiritual pode trabalhar em tratamentos espirituais, não é bem assim. Em maioria nos oferecemos como voluntários antes mesmo de vir para terra, demonstramos intenção de ajudar antes de encarnar. Quando o chamado desperta e aceitamos a tarefa, temos todo o suporte que precisamos dos planos mais elevados. Apesar de nossos defeitos e de nossa evolução em andamento, temos mentores que nos capacitam para trabalhar com a luz, basta se colocar a disposição e ter disciplina nos trabalhos. Como diz uma de minhas bastante queridas professoras de vida: "A cura do outro é a minha cura".
 Como eu disse, estávamos em poucos trabalhadores, o local era um médio termo entre a terra e o umbral, muitos irmãos dormindo na terra se desprenderam do corpo para fazer o ritual no seu corpo astral, em sua maioria haviam sido encaminhados por seus mentores, eram irmãos jovens, com imenso vazio existencial, perdidos em ilusões, ansiosos, curiosos e também carregados de indisciplina. Me via em muitos deles e por isso pedi muita força, pois seria necessário um trabalho muito forte e muito bem feito para que a cura chegasse a cada um deles, me firmei neste propósito e senti meus sentidos sendo potencializados.
 Muitos irmãos chegavam no local determinado para o trabalho, era uma casa disforme, com gramado dentro do cômodo principal, meias paredes, espaços sem teto e um jardim em formato de colina apontando um céu de cores densas. Certamente fomos enviados propositalmente para aquele local, era o primeiro contato daqueles espíritos com a ayahuasca astralina, eles iriam ter ali uma primeira experiência, preparando os corpos espirituais, para despertar os corpos físicos a irem aos rituais terrenos continuando seu tratamento. Mas ainda estavam em zonas muito baixas de energia, eram espíritos rebeldes, se recusavam a ir de imediato conhecer um belo templo. A estratégia dos planos superiores foi nos mandar ali, para uma "zona de esquecimento". Montamos acampamento naquele plano vizinho com a terra, porem varrido de cargas negativas, era apenas um lugar esquecido, neutro, onde tais espíritos não se intimidavam pela aparência simples e abandonada e se identificavam pela curiosidade de estar indo a um lugar secreto. Apesar de seu aspecto de abandono, tinha muita beleza no cenário.
 A ayahuasca que nos foi enviada era clara, parecia um suco escuro de maçã, seu gosto não era amargo e a dose tinha que ser servida com primor e cuidado. Era um dos encantos do ritual, acolher com suco divino e mostrar responsabilidade, pois o gosto extremamente agradável não alertava o imenso poder da bebida.
 Recebemos cerca de cento e cinquenta espíritos, meus colegas desdobrados e eu somávamos apenas dez. Estávamos muito atentos, nossa presença era extremamente necessária na atividade, aqueles irmãos iriam nos conhecer em espírito e nos reconheceriam no físico, representaríamos na terra a confiança que já haviam conhecido em viagem astral. Provavelmente quando nos encontrassem em plano terreno, teriam a forte sensação de já nos conhecer.
  Vinte minutos de concentração com musica, sem maiores problemas e em seguida quarenta minutos em concentração de absoluto silencio. Os efeitos não eram os mesmos da ayahuasca física, a sensação era muito parecida, porém a limpeza era toda astral. Era de certa forma muito mais tranquila quanto as reações de limpeza, mas muito mais severa quanto as lições da alma. Seis de nossos companheiros voluntários estavam desempenhando outras tarefas de cura com metade do grupo, eu e mais três dávamos assistência a outra metade. Alguns irmãos iniciaram uma conversa no meio do ritual. Acontece nos rituais na terra mas ali o clima era diferente, era desrespeito proposital, visível provocação, estavam ainda muito atormentados e arredios. Me aproximei, apesar da tensão que estava sentindo, expliquei que não podiam trocar experiências durante o ritual. Instantaneamente outro grupo começou uma conversa, me aproximei e dei exatamente a mesma explicação. Um burburinho de conversa se espalhou por todo o ambiente, a tensão que eu estava sentindo explodiu, minha sensibilidade tinha também apitado o termômetro, era permissão para endurecer. Elevei a minha voz e disse em um som muito alto que atingiu a todos: "-Vocês acham que isso é uma brincadeira? Isso é muito sério. Silencio!". A voz firme era a minha, mas quem disse foi meu guardião. Ele ficou apenas alguns segundos visível para mim, apenas para que eu me tranquilizasse e lembrasse que estávamos todos assistidos e nada sairia de controle.
 A energia que os irmãos traziam consigo, não podiam modificar a estrutura energética que tinha sido construída no ambiente, e nós, que éramos apenas trabalhadores da luz, precisávamos proteger a ordem, para não deixar a energia de cura e elevação baixar. A rebeldia era tanta que eu via além de seus olhos, mas apesar de parecerem querer desafiar a ordem, sentiam o poder das energias maiores ali envolvidas, intimidados, deixaram o ritual seguir em absoluto silencio. Com o dobro de energia, cura e ensinamentos, os que estavam agitados foram derrubados pela força.
 Faltando meia hora para o fim do trabalho, fui levada por instinto para um dos portais daquele lugar. Materializaram-se então ali, três espíritos jovens, haviam chegado apenas agora e eu pude sentir em suas energias que haviam sido atraídos para o trabalho, que agora equilibrado com alegria de tantos jovens despertando, estavam atraindo mais jovens. Um dos muitos efeitos de uma egrégora é atrair mais energia similar aquela, se a energia for de raiva. atrairá mais raiva, se for de amor, mais amor, de cura, atrairá quem busca a cura. Porém esses atrasados não tinham ainda permissão para adentrar, seriam encaminhados a um próximo ritual. Neste mesmo instante o espírito de um garoto que estava participando do ritual, passou com uma outra alma que não reconheci ter visto antes, enquanto servia a ayahuasca. Ela segurava no ombro do rapaz enquanto falava em seu ouvido e o seguia. Pedi aos três perdidos que esperassem ali no portal e não movessem um centímetro, eu precisava buscar auxilio e não podia permitir mais desordem, faltava muito pouco para acabar. Corri atrás dos dois que haviam passado por mim, bem a tempo consegui segurar o espírito da garota intrusa e impedir que entrasse no cômodo principal onde seguia o ritual, que agora estava nos momentos finais de bailado. O espírito do menino que estava sob efeito da ayahuasca, seguiu sem ela, magnetizado pela musica adentrou no ambiente que emanava cura:
 - ME SOLTA, EU ESTOU COM ELE!
Ela explodiu em fúria, tive que me segurar para ser firme, pois as palavras me atacavam com força.
 -Infelizmente você não pode entrar agora, o ritual está acabando, só quem consagrou a bebida pode passar daqui.
 - ME SOLTA, VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE ME IMPEDIR, EU ESTOU COM ELE, ELE É MEU E EU VOU TIRAR ELE DAQUI!
 Ela tentava se soltar para seguir o garoto, tinha aparência jovem, usava saia, meia calça, um coque de menina bem feito, casaquinho e bolsa transversal dessas bem delicadas. Continuei segurando ela e explicando:
 - Você não pode entrar ai agora, vai ter que voltar um outro dia se quiser participar, isso não é uma festa, é um ritual serio, se você for atrás dele, ele não vai conseguir ficar em paz, você está causando perturbação ao espírito dele e se entrar vai causar perturbação no espírito de todos.
 Eu dizia porque via, sabia, sentia. Estava sendo guiada para impedi-la de entrar, uma intuição muito forte fazia isso. E apesar de segurar ela com firmeza, eu explicava com calma e até carinho na voz. Por ela e pela cura de quem ela seguia.
 -EU VOU ENTRAR, ME SOLTA!
Ainda achando que se tratava apenas de mais um espírito rebelde, que seguiu um possível amigo, namorado ou familiar, eu tentei explicar novamente que ele estava em busca de Elevação Espiritual e que a presença dela ali estava atrapalhando. A situação começou a ficar incontrolável e o espírito da garota ficou muito violento. Com uma força sobrenatural, puxei ela de volta até uma sala que dava para um portal de saída, quando a soltei, vi a nossa volta um circulo de pelo menos vinte guardiões, tinham quase duas vezes o meu tamanho. O espírito revelou sua verdadeira face, era um espírito obsessor, desencarnado e que perseguia o espírito do jovem a mais de cinco décadas. Minha surpresa foi imensa, principalmente por conseguir ver assim de forma tão clara, o espírito desencarnado, meu medo de ver coisas do além sempre foi tão grande, que mesmo em um trabalho no astral eu achava que não iria ver o que não queria, quanto mais impedir um espírito assim com minhas próprias mãos. A face da doce menina se transfigurava a cada frase que ela dizia, mostrando sua verdadeira aparência monstruosa e assustadora, amaldiçoando a todos nós, amaldiçoando nosso ritual e ameaçando nos destruir, dizendo que ele era dela, só dela, que ela iria tirar ele dali e que nós nunca o tiraríamos dela.

 Acordei, com o susto e a imagem gravada daquele espírito obsessor se debatendo na presença dos espíritos guardiões, os policiais do astral. 
 Meus sonhos lúcidos ainda são confusos, talvez para o meu próprio bem eu acorde sem me lembrar os detalhes do que fiz enquanto o corpo físico dormia, geralmente consigo trazer comigo apenas as informações essenciais, poucas impressões e sensações das atividades que desempenhei, mas dessa vez tive uma impressão muito maior das possibilidades que eu desempenhava no mundo de lá. Acordei me lembrando vividamente, pois acredito que estava na hora de ver que eu era capaz de lidar com as almas desencarnadas, e ver com o que verdadeiramente estava lidando. Apesar da forte impressão e susto que tive, a experiência me fortaleceu. Acordada aqui no plano físico, ainda sinto a proteção e confiança que recebi de meus amigos, guias e protetores lá do astral. Ampliando meus sentidos aos poucos para não me assustar e me preparando no meu tempo para minhas missões nesse e em outros mundos.
 Gratidão meu pai pelo trabalho que me permitiu ajudar a realizar e por tudo que tem me mostrado para me despertar e curar. AHEY AHOW.




segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Mais um desses pedaços de coração que perdi por ai



Nos atraímos pelo aparente vazio.
Primeiro construímos algo que não sei definir,
depois amizade,
por ultimo amor,
mas o ultimo eu não soube aceitar.

Eu tentei, eu quis..
minha razão dizia: 
"Ele é bom pra você, seja boa para ele".
Mas meu coração é teimoso,
ele dizia pra todo resto que era melhor não.
Eu me arrastava pelas paredes querendo gritar,
mas o som não se propaga no vazio
e no vazio onde eu me encontrava
ele já tinha penetrado, mas agora me seguia feliz,
surdo 
não escutava mais os meus gritos de dor. 

Vai ver ele via, vai ver ele sabia,
mas vai ver ele não tinha lugar melhor pra ir
e preferia ficar.

Eu não queria cair,
a dor era causada justamente pela luta,
pelo conflito em mim.
Já ele, parecia ter levado um tombo feio,
metido a cabeça no asfalto e ficado tão retardado, 
que não se importava em estar sempre disposto 
a ter o coração dilacerado e
engolir com olhos baixos
as palavras que eu proferia,
 sem me importar se machucavam;

"Não, não temos nada"
"Ele é como um irmão"
"Somos só amigos".

Fui destruindo aos poucos o coração do pobre rapaz,
Diminuindo seus esforços,
Não o mantinha preso a mim,
mas ele se envolveu
e já não tinha mais um sem o outro.
Eu ainda resistia.

Eu era qualquer coisa, a pior coisa,
com força apenas para não aceitar o que já era realidade,
tentando me desvencilhar dos seus tentáculos bondosos.

Concentrei toda a minha energia no propósito de rejeita-lo,
afinal, se eu sentia dor;
então obviamente ele não era o meu remédio
e a minha salvação ainda estava por vir.

Mas não estava,
naquele momento, ele era sim a salvação.
Era meu alivio, era a minha alegria,
era o lado bom de tudo que tinha de ruim.
Se não era a cura, era o que mais chegava perto,
ele não era o herói que eu sonhava,
mas foi o único que veio para me salvar mim mesma.

Enquanto a paciência da maioria das pessoas
 é um copo se enchendo,
a dele era um copo esvaziando.
Quando a ultima gota dele secou,
eu nem tentei pedir pra ele ficar
eu finalmente tinha conseguido
e não ia voltar atrás.

Então ele foi,
sem nenhuma raiva, rancor ou remorso.
Sua parte estava feita e a vida dele iria seguir
 sem ser uma promessa,
 sem ser uma esperança. 
Um amor de verdade o aguardava,
pois qualquer amor que ele tivesse iria ser verdadeiro.

Sim, eu senti com o dobro de fúria e dor,
pois para ele a perda foi em doses,
para mim foi num porre só.
Mas passou, e minha cura finalmente chegou,
do jeito que eu queria, sem ninguém pra ajudar.

Ainda hoje penso nele, nas duas mãos que ele tentou me dar
no coração que ele me ofereceu,
na melhor companhia que já tive além da minha.
Mas hoje ele só serve como espelho,
um jeito de eu me espelhar pra ver se aprendo a amar.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Igreja



Esta é uma igreja,
a igreja é a casa de Deus.

Vamos cuidar dela,
vamos varrer,

pintar, 
enfeitar com flores,
entoar mantras,

dizer coisas bonitas
que nos ajudem a evoluir.

Que a igreja sirva para a prosperidade,
pois a igreja é a casa Deus.


Eu tenho uma igreja,
você pode rezar aqui. 
Este coração 
é uma casa de oração.

Sumindo

Eu quero o inverno,
quero hibernar, 
afundar na falta de ação do meu corpo, 
mergulhar nessa inercia passageira.
  
Eu quero ferias dessa escola,

pausar o aprendizado, 
parar de apanhar,

parar de sofrer as consequências,
parar o tempo,
parar com toda essa vida.

Respiro, mas vou pagar pelo
ar poluído que meu pulmão consome.

Me alimento o melhor que posso,
mas vou pagar pelo veneno que ingeri.

Afasto o mal lá fora,
que já tem mal o suficiente aqui dentro.

Me livra dos meus karmas, amém,
Perdoa essas dividas, amém.

Isso aqui virou uma conta cara demais, 
eu não posso pagar; eu não quero pagar,
vou ser inadimplente das contas da minha alma.

Eu quero fugir desse corpo, 

quero acordar e ser o silencio,
se não é melhor nem despertar,

porque não quero mais errar, 
nem sentir a necessidade de acertar.

Não quero mais ser refém das palavras que aprendi,
nem dos exemplos que me deu para agir,
eu quero fugir,
escapar desse corpo
quero deixar de existir,
sumir.