segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os pequenos e os grandes gestos de amar

As vezes quando eu ficava em casa, ela só brigava comigo. Sinceramente, entre vinte frases, dez eram pra me criticar, outras oito eram sobre assuntos que ela sabia que me aborreciam e umas duas eram perguntando do meu dia, e como estava aquele problema que eu deixei escapar, coisas que eu respondia impaciente com: Ah, ta tudo bem já vó!
Ela dizia da bagunça que eu fazia, do como eu era desorganizada, e enquanto me criticava ia arrumando todo furacão que eu deixava por onde passava. Sempre tinha comida me esperando quando chegava do trabalho, e quando chegava da faculdade a minha cama muitas vezes já tava pronta. Eu passava tanto tempo fora de casa, e quando estava em casa tava sempre irritada por ter que dividir o banheiro com mais cinco pessoas. As vezes saia no sábado de manhã pra trabalhar e só voltava no domingo na hora do almoço, pelo menos umas três vezes, cheia de areia da praia! E ela balançava a cabeça, me chamava de doida e pegava os restos mortais pra jogar na maquina de lavar. Nos raros dias que a gente ficava junto em casa, eu ficava no colo dela, vendo o Ronnie Von na tv, ou só novela mesmo. Ela fazia pipoca, ficava tentando me enfiar comida garganta abaixo, coisa de vó eu acho... No fim das contas ela sempre pegava no sono, e eu chamava ela pra ela ir pra cama.
Ela ainda me critica muito, e sempre faz comentários do tipo: "Não acredito que você seja cozinheira, olha a sujeira no fogão". Talvez minha paciência tenha aumentado, ou talvez eu sinta muita falta de estar com ela todos os dias. O engraçado é como ela sempre arruma uma forma de me pedir ajuda em coisas que eu sei que ela não precisa, só pelo prazer de fazer algo comigo.
Como pedir ajuda em uma receita, ou pra eu passar a linha na agulha, coisas bobas, que eu sei que ela faz só por que me ama!
Acho que aprendi isso com ela sabe? As vezes peço, só pra poder curtir aquele microssegundo em que sublimemente tento deixar claro o quanto aquela pessoa é importante na minha vida!


domingo, 28 de abril de 2013

Os azarões da rua Augusta!

 Amanheceu na rua Augusta e os mortos-vivos entocados nas baladas, sinucas e botecos subterrâneos começavam a sair. Cinco horas da manhã é o horário dos fanfarrões, sete horas da manhã é o horário dos azarões! Quando todos se vão, esgotados de tanto dançar, bêbados demais pra conversar, ou com tesão demais para não ir pra casa transar, sobram na rua os azarões. Os azarões são distintos, alguns são viciados, outros são apenas alcoólicos, mas em uma grande maioria são apenas as crianças que ainda esperam alguma coisa, que acham que tudo o que a noite não os proporcionou pode mudar nas primeiras horas de um novo dia.

Ele saiu de dentro do bar pra fumar um cigarro, a luz nos olhos chegava a doer. Era pequeno e cabeludo, e nessa hora já tava doido, maluco mesmo. Mas era um maluco diferente, tava bagunçado com as ideias, mas era gentil, e a loucura toda estava causando uma tremenda coragem.

Então viu uma menina, a mesma que tinha visto antes de entrar. Não tinha tido coragem antes, mas agora tava tão doido que resolveu arriscar:

-Oi, desculpa interromper a conversa de vocês, mas é que eu realmente te achei muito linda e queria te conhecer.
-Ah, que fofo, mas sabe o que é? Não fico com caras.
-Ah, tudo bem.. Posso te dar um beijo na bochecha então?
-Pode!

Poderia ter ficado por isso mesmo, mas ele tava maluco, e ao invés de ir fumar o cigarro longe, virou pra amiga da menina e desabafou:
-Acho que ela beija caras sim. A primeira menina que crio coragem pra chegar hoje e levo um fora.

O que aconteceu a seguir é difícil de explicar. Se encontrava a frente do garoto, uma menina muito mais alta que ele, muito mesmo, que falava articuladamente, e cujo a voz batia no peito e causava sensações profundas. Mas o mais importante, os olhos! Tinha os olhos muito negros, tais como eram os dele.
Uma conexão muito forte aconteceu.
Ela respondeu:
-Mas por que não chega em outras? Não pensa assim, você é bonito, tem muitas qualidades, você só tem que aceitar isso. Se você enxergar, as outras pessoas também vão.

Tudo que ela dizia, trazia paz, cada palavra! Até mesmo um discurso maluco dos deuses que ela acreditava. Ele não chegava a abrir a boca, só concordava com os olhos. Enquanto ela continuava a falar, ele começou a se sentir como se tivesse achado tudo o que precisava. Até o signo dela combinava com o dele, ela era libra, e apesar de falar que tinha passado por vários quadros de depressão, estava ajudando que era uma beleza.
Ele pediu um segundo, a puxou pela mão pra perto de um degrau, subiu nele e disse:
-Posso te dar uma coisa?

E deu um beijo nela! Foi doce, cheio de energia boa. Ela agradeceu, disse que na outra semana queria ver ele cheio de coragem, sabendo que podia e que devia chegar, não na menina mais bonita, mas na que fosse a melhor pra ele.
Ele disse que já tinha achado, a abraçou e disse que ela era demais. Estava tão frágil, tao bagunçado das ideias, e a companhia dela parecia curar tudo. Acabou pedindo pra ela acompanhar ele até o metro.
No meio do caminho lembrou do quanto estava doido, e de que toda aquela sensação provavelmente iria embora no dia seguinte. Surgiu um leve arrependimento de toda cena que havia criado.
Eles trocaram telefone, mas provavelmente nunca vão se ligar...
Engraçado, porque uma das coisas que ela disse, é que ele iria tentar, e tentar e tentar com muitas pessoas, e nenhuma seria a pessoa certa. Até que um dia, ele acharia uma pessoa, e essa unica pessoa faria tudo fazer sentido!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crescendo e testemunhando a Revolução Sexual Masculina!

Lembro-me de estar sentada na casa do cara que tentou ser meu mentor, discutindo com ele a minha própria sexualidade. Passava as tardes de quarta estudando musica, antropologia, astrologia, historia, artes e alienígenas. Foi assim por uns três meses, até o dia em que parei de aparecer nas quartas, abdiquei de aprender, evoluir e tomar café...
Por um curto período de tempo eu absorvi mais informações do que muitas pessoas absorvem durante a vida toda, e talvez, me conhecendo um pouco, ele já esperasse que eu fosse sumir assim. A ultima vez que a gente se viu ele me disse que eu precisava crescer, eu fiquei brava e não apareci mais... Bom, da pra ver que ele tinha razão, né?

Eu NUNCA quis crescer, minha mãe só conseguiu me convencer a parar de chorar aleatoriamente por isso, dizendo: "E como vai ser se você não crescer? A Camila vai arrumar um namorado, você vai chamar ela pra brincar e ela vai dizer: "Sai daqui pirralha!". É isso que você quer? Não é melhor você crescer?"

Com essa frase a minha mãe me convenceu que eu tinha que crescer!
Sabe o que é mais engraçado? Durante algum tempo eu acreditei que "crescer" seria arrumar um namorado!
Podem rir, mas era isso mesmo, essa ideia só foi interrompida por um acontecimento. Em 2003 beijei uma menina, e quer saber? Eu continuei desencantada com esse mundo adulto, foi ai que fiquei mais desencantada, por  meninos, por meninas meninas, por tudo. Achava tudo muito desinteressante, crescer sempre foi meu maior problema, não importa muito se era pra casar com um cara ou uma mina!

Eu tinha treze anos quando entendi que o problema não era arrumar um namorado. Mas pros meus pais isso foi sim um problema! Eles falaram que me amavam de qualquer jeito, mas veja bem, isso foi em 2003, uma época que a globo nem ninguém no mundo ainda nem pensava em discutir os homossexuais no mundo. Meu pai me perguntou se eu queria virar menino, minha mãe chorou uns cinco meses seguidos, e eu ouvi muitos discursos de que tinha que me preservar, de que ia sofrer com o o julgamento das pessoas, de que homossexuais não eram felizes, que o mundo não entenderia.... mas eu até entendo, eu não tinha nem quinze anos quando tudo isso veio a tona. Naquela época eu preferi dizer que eu era gay, só pra não dar esperança pra ninguém, pra me afirmar e acabar com todas as expectativas de eu aparecer em casa com um namoradinho. Fiz isso mesmo não tendo certeza se eu realmente era gay. Acho que foi a primeira escolha adulta que eu fiz, por que foi uma das primeiras escolhas burras que eu fiz.

As pessoas acham que estar sexualmente resolvido, é estar sexualmente definido! Atenção galera, não é!
Em uma daquelas tardes conversando com meu mentor, eu contei pra ele que gostaria muito de ser mãe, mas não imaginava isso acontecendo. O que ele me disse? Disse que isso PRECISAVA acontecer! Disse que faz parte da vida, que temos que deixar nossas sementes na terra. Disse que se deixarmos de pensar espiritualmente por um segundo, a unica maneira de continuarmos vivos é através de nossos filhos.

Isso mexeu muito comigo. Eu percebi que mesmo tendo experimentado tudo que minha vontade mandava, eu não estava sexualmente resolvida, e que ainda me incomodavam detalhes da minha "escolha sexual". Nessa mesma época varias pessoas a minha volta estavam ganhando filhos, e o meu instinto natural maternal estava gritando comigo! Com tudo isso na cabeça, eu não sabia se devia contar pra minha namorada essas questões. Como eu reagiria se fosse o contrario e ela falasse que queria um filho? Provavelmente eu diria: "Vamos ter um então! É tudo naturalmente confuso, porque naturalmente não temos como gerar um filho, mas ai, vamos nessa!" ou talvez eu apenas ficasse confusa, triste e achando que EU não era o que ela queria ou precisava.

A essa altura, você que está lendo provavelmente já se esqueceu do titulo, voltou, leu e se perguntou, "Tá, mas e a revolução masculina, cadê?" Ok, isso virou uma grande introdução, e agora vem a grande resolução sugerida no titulo:

Se hoje eu tenho a possibilidade de achar soluções pra esses meus problemas de direção, tudo isso é graças a mulheres que um dia saíram nas ruas e queimaram sutiãs! Graças a elas, eu não preciso casar, eu não preciso namorar, eu não preciso de um cara pra ter um filho, posso ser mãe solteira, trabalhar, posso ter um filho com um cara, criar ele com uma mina, ter um filho de um gay, e quem sabe, sei lá, ir morar todo mundo junto! Por maiores que sejam os problemas burocráticos, EU POSSO!
Li a algum tempo atras, uma reportagem genial sobre o Laerte, e infelizmente não guardei link nem o nome de quem a escreveu, mas a pessoas teve a grande sacada da historia: HOMENS, ESTAMOS ESPERANDO A REVOLUÇÃO DE VOCÊS!

Todos estamos um pouco perdidos, procurando nosso papel nessa nova sociedade que estamos criando, tentando achar a melhor forma de nos adaptar ao novo mundo, tentando achar nosso lugar e espaço, tentando criar nossas crianças com valores reais de amor, com valores de respeito ao próximo, respeito ao que o outro é, ao que o outro acredita. Pelo menos gosto de pensar que estamos todos nessa luta, apenas ignoro quem está do lado do time que anda olhando pra trás.
Não é fácil, mas está acontecendo, estamos lidando como nunca lidamos antes com nosso poder de escolha!
E quem ficou mais perdido nessa revolução toda foi o homem. O homem que durante seculos foi ensinado a trazer o dinheiro pra casa, mandar na mulher, decidir a vida de todos... agora está ali, encarando suas duvidas e os temores de não ter mais sua vida decidida pelo conformismo!
Ai eu piro quando vejo cara de saia, quando vejo cara que nem é gay e beija amigo no rosto do amigo, cara que chora vendo novela. Esses são os caras que vão terminar esse ciclo de mudança do mundo!
Ainda tem uns religiosos loucos dizendo que para a paz ser restaurada devemos voltar a nos guiar pelos princípios da família. Mas nós já sabemos que os princípios a serem seguidos são os princípios do amor, não é?

Vejo que os nossos filhos vão ir pra escola sem serem julgados pelos coleguinhas, e que vão ter o direito de gostar de rosa, ou de usar um casado com flores. Sabendo que no fim das contas ele pode ter filhos, casar com uma moça que gosta de formula 1, sei lá. Ou ele pode ficar com caras, tantos faz, tem diferença?

No inicio foi difícil para os meus pais entenderem que eu não ia casar, que não ia ser a filha que eles idealizaram, mas não é difícil para todos os pais? E outra, tudo muda, vai que eu caso? Ai a decepção vai ser que eu não sou a sapatão que todo mundo esperava que eu fosse? Minha situação tem nada de especial, e meus problemas na verdade nunca foram problemas! Assim como ter um filho que foi estudar dança ao invés de medicina não é um problema. Assim como não é um problema se separar de um casamento que não da mais certo. Assim como a filha que engravida e não casa com o cara, está livre do inferno! Gente, está tudo bem!

Não me impressiona alguém que se diz sexualmente resolvido, hétero convicta, gay com certeza. Não me convence gente que tem a vida definida, e planos categóricos a serem seguidos. Tudo bem, ninguém vai fazer o que não tem vontade, mas e se tiver vontade? Acho que precisamos nos lembrar o tempo todo que o que buscamos é liberdade e que ficar presos a novos padrões vai acabar criando novos conflitos!

Sabe do que mais? Encontrei a Camila hoje, e chegamos a conclusão de que eu posso viver na terra do nunca, porque nunca nenhum cara mereceu namorar com ela!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Acredito no Amor!

A Neusa é um dos meus mais novos presentes da vida, uma nega linda com um astral maravilhoso, uma dessas pessoas que tornam tudo mais fácil. A conheci a poucas semanas, ensinando o cardápio que estou bolando pra um restaurante, e entre um prato e outro acabei recebendo uma lição tão linda, um aprendizado tão grande, que eu soube que precisava tentar repassar o que aprendi para mais pessoas.

Logo de cara ela já tinha me dito que tinha tido um marido muito ruim, que batia nela e tudo. Mas que graças a Deus tinha se livrado dele, criado os três filhos e agora tinha tirado a carta de motorista e comprado um carrinho. Já amei ela de cara, uma mulher com seus cinquenta e poucos anos, negra, que não tem medo de recomeçar, que é forte e independente! Depois ela falou com os olhos brilhando do nego dela, e eu brinquei "ahhhh, então a senhorita tem namorado?" e ai ela contou do Emílio, que é cabeleireiro, que tem um cavanhaque lindo, que é aquele homem que onde chega todo mundo olha e que além de tudo também manda bem na cozinha!

A Neusa gosta muito de aprender coisas novas, me pergunta sobre tudo, me fez perceber o prazer que é ensinar pra quem quer aprender! E eu vi que ela tinha muito mais pra me ensinar sobre a vida, do que eu tinha sobre comida. A gente tem uma diferença de quase 30 anos de idade, mas já tem uma convivência de amigas de mil anos, e entre um prato e outro, esses dias pedi pra ela me contar como conheceu o Emílio, com os olhos brilhando e cheia de paixão em cada palavra, ela me contou:

-"Um dia fui com minhas amigas pra um baile desses de terceira idade, me arrumei toda, coloquei um salto alto, maquiagem, toda maravilhosa mesmo, sabe? E disse pra elas: "Hoje o homem mais bonito dessa festa vai me namorar!". As palavras tem poder meu amor. Chegando lá eu vi ele dançando com uma mulher gordinha, bem bonita, e sentada da minha mesa eu disse: "Que homem lindo!", ele viu meus lábios se mexendo e entendeu! Depois disso ele sumiu, não apareceu mais, até que uma musica lenta começou e ele apareceu bem na minha frente e me perguntou se eu dançaria essa musica com ele. Na hora eu disse eu não dançava tão bem quanto ele, mas ele disse que não tinha problema, então eu levantei e a gente dançou juntinho, e estamos dançando juntos até hoje."

Nessa hora eu já tinha parado de fazer o que estava fazendo na cozinha e estava com a mão no peito, MORRENDO de amores pela historia deles, ela continuou:

-"A gente nunca brigou, mesmo sendo muito diferentes. Ele é mais reservado sabe? É um homem serio, dez anos mais velho que eu. A gente passeia junto, vai nos bailes juntos, é uma delicia estar com ele. No natal ele me levou pra um baile chique de morrer, lá no Ipiranga. Eu fui com um vestido vermelho e o Emílio com uma camisa vermelha ( a gente só sai pra dançar combinando a roupa, e é ele que faz questão)! Quando entrei lá não aguentei, fiquei muito emocionada e chorei. Lembrei dos meus parentes que estão lá no parana e nunca viram algo assim tão lindo, aquele piso de mármore, a escadaria com tapete vermelho. Ai pro fim da noite eu pedi pra banda tocar aquela musica do Roberto Carlos, esse cara sou eu! Fiz dedicatória e tudo, pedi pra dizer que ele era esse cara e que não tinha que mudar em nada, que já era perfeito!

-To apaixonada por vocês dois, serio!

-hahaha, a gente é assim. Uma vez fomos pra casa dele lá em Ribeirão Pires, e começou a chover, eu disse pra gente ir na chuva mesmo, e a gente foi correndo, demos beijo, brincamos na chuva, pareciam duas crianças e o povo lá tudo olhando, acho que nunca imaginaram uma cena dessas, dois velhos brincando na chuva. hahaha

-Meu, vocês são almas gêmeas, só de ouvir a historia da pra saber. E o mais lindo é que vocês se encontraram agora! Tem tanta gente bem mais nova que perde a esperança de achar alguém assim, e vocês são a prova de que as pessoas certas se encontram apenas no momento certo!

-É isso mesmo meu amor, por isso te digo, peça SEMPRE O MELHOR PARA VOCÊ! Eu pedi pra Deus e ele me mandou!"

Nesse dia eu fui pra casa encantada, pensando em tudo que ela me contou, em todas as dificuldades que enfrentou, e no relato do encontro de duas almas.
O que a Neusa me contou é de extrema importância, me fez ver que que não importa se você acha que seu tempo já passou, se você acha que está velho, se você é gay e tudo parece impossível nesse mundo, se você se acha feio, se acha que está acima do peso, se não se acha interessante ou rico o suficiente.
Nada disso importa, na hora certa a pessoa certa vai aparecer. Apenas não se contente com o pior, espere, deseje e peça sempre pelo melhor, e quando os dois estiverem prontos vão se encontrar e dividir o mesmo momento!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Descaso causador de morte!

Nesse domingo estava rolando uma puta festa no minhocão, e eu atrasada pra ir ensaiar fui correndo pra estação, quando cheguei na porta, tinha um homem caído BEM NA FRENTE da escada rolante, meio de lado, e as pessoas desviando dele, como se ele nem tivesse ali... Mesmo atrasada eu não passei por ele, eu voltei pra ver qual era a situação, só de olhar eu vi que ele tinha muito sangue na boca e o olho tava virando.. VARIAS PESSOAS estavam passando ali, mas ninguém nem demonstrava interesse ou remorso de não ajudar o homem, então desci correndo pra avisar na cabine do lado das catracas... e advinha? Ele tava engasgado com o próprio sangue, e se não tivessem ido socorrer ele podia ter morrido...

Em menos de um mês eu vivi duas situações envolvendo vidas e mortes, e nas duas eu quis me rebelar e chacoalhar pessoas na rua, gritar com elas, dar show na cara da sociedade e dizer o quão escroto é o descaso de todos!
Antes dessas passei por MUITAS situações de revolta, como ver em horário de pico uma senhora cair no chão do metro, empurrada por uma manada de queria entrar no vagão e vazio e sentar, e eu tive que sair correndo de uma porta do meio até o fim do vagão, atravessando gente mal educada pra ir socorrer ela.
E outra vez um cachorro andando 7 horas da manhã nos trilhos do Brás, e uma puta galera vendo como se fosse de boas, como se um trem não pudesse vir a qualquer segundo e atropelar ele...
Sabe, não me incomoda ajudar as pessoas, pelo contrario, quando tenho a oportunidade de ajudar alguém eu faço como se fosse por mim mesma... saio correndo, desvio minha rota, perco compromissos, mas faço o que acho que deve ser feito...
O que me incomoda é quando vejo o descaso nas pessoas!
Em contra mão desse mesmo descaso pelos oprimidos, outro dia passando pela Praça Sé havia um morador de rua morto, e dezenas de pessoas em volta... Achei curioso o fato de que centenas de outros moradores de rua ficam ali na praça, e ninguém olha pra eles vivos, mas basta que um perca a vida para que fique interessante aos olhos da sociedade... ai elas se perguntam quem ele era, de onde veio, o que o levou até ali e o porque morreu...
Tudo errado né? Acho que a gente deveria se interessar pela VIDA, e não pela morte... e principalmente, a gente deveria ser a mudança que quer no mundo...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Talvez...

Talvez você esteja neste exato momento, exatamente como eu, comendo um chocolate em frente a televisão e pensando na complexidade do próprio sentimento... Ou na estupida simplicidade, que de tão simples acaba parecendo complexa, como se tivesse algum mistério pra decifrar.
Sei lá, vai ver você só tá vendo um filme, com a cabeça vazia, apenas respirando e relaxando.
Talvez você esteja rindo pro próprio celular, por causa de uma piada boba, ou um comentário idiota.
Por mim você poderia estar indo pra algum lugar, aproveitar a sexta, mas ai pode ser que pra você a idealização de "aproveitar a sexta", seja já a essa hora estar dormindo, jantando com bons amigos, olha, vai ver que pra você o ideal nessa sexta seria estar deitada no colo do seu pai...
É possível também que você esteja  apenas trabalhando até essa hora. Bom, de qualquer forma, eu tenho tentado desesperadamente ser racional, enquanto tento me convencer que não importa o quanto eu pense nas possibilidades, a realidade é só aquela que acontece, não é?
Talvez você também pare no meio do seu dia, e no meio das suas coisas, e talvez você pense nas coisas que eu penso... Mas se você também pensou nisso, acho que você também sabe que a realidade é só aquela que realmente existe, né? O que eu espero realmente, é que a gente possa conversar sobre isso um dia, na verdade eu espero muito que a gente possa conversar muitos dias, durante varias horas, pra eu saber o que você gosta de fazer nas sextas.