Por um curto período de tempo eu absorvi mais informações do que muitas pessoas absorvem durante a vida toda, e talvez, me conhecendo um pouco, ele já esperasse que eu fosse sumir assim. A ultima vez que a gente se viu ele me disse que eu precisava crescer, eu fiquei brava e não apareci mais... Bom, da pra ver que ele tinha razão, né?
Eu NUNCA quis crescer, minha mãe só conseguiu me convencer a parar de chorar aleatoriamente por isso, dizendo: "E como vai ser se você não crescer? A Camila vai arrumar um namorado, você vai chamar ela pra brincar e ela vai dizer: "Sai daqui pirralha!". É isso que você quer? Não é melhor você crescer?"
Com essa frase a minha mãe me convenceu que eu tinha que crescer!
Sabe o que é mais engraçado? Durante algum tempo eu acreditei que "crescer" seria arrumar um namorado!
Podem rir, mas era isso mesmo, essa ideia só foi interrompida por um acontecimento. Em 2003 beijei uma menina, e quer saber? Eu continuei desencantada com esse mundo adulto, foi ai que fiquei mais desencantada, por meninos, por meninas meninas, por tudo. Achava tudo muito desinteressante, crescer sempre foi meu maior problema, não importa muito se era pra casar com um cara ou uma mina!
Eu tinha treze anos quando entendi que o problema não era arrumar um namorado. Mas pros meus pais isso foi sim um problema! Eles falaram que me amavam de qualquer jeito, mas veja bem, isso foi em 2003, uma época que a globo nem ninguém no mundo ainda nem pensava em discutir os homossexuais no mundo. Meu pai me perguntou se eu queria virar menino, minha mãe chorou uns cinco meses seguidos, e eu ouvi muitos discursos de que tinha que me preservar, de que ia sofrer com o o julgamento das pessoas, de que homossexuais não eram felizes, que o mundo não entenderia.... mas eu até entendo, eu não tinha nem quinze anos quando tudo isso veio a tona. Naquela época eu preferi dizer que eu era gay, só pra não dar esperança pra ninguém, pra me afirmar e acabar com todas as expectativas de eu aparecer em casa com um namoradinho. Fiz isso mesmo não tendo certeza se eu realmente era gay. Acho que foi a primeira escolha adulta que eu fiz, por que foi uma das primeiras escolhas burras que eu fiz.
As pessoas acham que estar sexualmente resolvido, é estar sexualmente definido! Atenção galera, não é!
Em uma daquelas tardes conversando com meu mentor, eu contei pra ele que gostaria muito de ser mãe, mas não imaginava isso acontecendo. O que ele me disse? Disse que isso PRECISAVA acontecer! Disse que faz parte da vida, que temos que deixar nossas sementes na terra. Disse que se deixarmos de pensar espiritualmente por um segundo, a unica maneira de continuarmos vivos é através de nossos filhos.
Isso mexeu muito comigo. Eu percebi que mesmo tendo experimentado tudo que minha vontade mandava, eu não estava sexualmente resolvida, e que ainda me incomodavam detalhes da minha "escolha sexual". Nessa mesma época varias pessoas a minha volta estavam ganhando filhos, e o meu instinto natural maternal estava gritando comigo! Com tudo isso na cabeça, eu não sabia se devia contar pra minha namorada essas questões. Como eu reagiria se fosse o contrario e ela falasse que queria um filho? Provavelmente eu diria: "Vamos ter um então! É tudo naturalmente confuso, porque naturalmente não temos como gerar um filho, mas ai, vamos nessa!" ou talvez eu apenas ficasse confusa, triste e achando que EU não era o que ela queria ou precisava.
A essa altura, você que está lendo provavelmente já se esqueceu do titulo, voltou, leu e se perguntou, "Tá, mas e a revolução masculina, cadê?" Ok, isso virou uma grande introdução, e agora vem a grande resolução sugerida no titulo:

Li a algum tempo atras, uma reportagem genial sobre o Laerte, e infelizmente não guardei link nem o nome de quem a escreveu, mas a pessoas teve a grande sacada da historia: HOMENS, ESTAMOS ESPERANDO A REVOLUÇÃO DE VOCÊS!
Todos estamos um pouco perdidos, procurando nosso papel nessa nova sociedade que estamos criando, tentando achar a melhor forma de nos adaptar ao novo mundo, tentando achar nosso lugar e espaço, tentando criar nossas crianças com valores reais de amor, com valores de respeito ao próximo, respeito ao que o outro é, ao que o outro acredita. Pelo menos gosto de pensar que estamos todos nessa luta, apenas ignoro quem está do lado do time que anda olhando pra trás.
Não é fácil, mas está acontecendo, estamos lidando como nunca lidamos antes com nosso poder de escolha!

Ai eu piro quando vejo cara de saia, quando vejo cara que nem é gay e beija amigo no rosto do amigo, cara que chora vendo novela. Esses são os caras que vão terminar esse ciclo de mudança do mundo!
Ainda tem uns religiosos loucos dizendo que para a paz ser restaurada devemos voltar a nos guiar pelos princípios da família. Mas nós já sabemos que os princípios a serem seguidos são os princípios do amor, não é?
Vejo que os nossos filhos vão ir pra escola sem serem julgados pelos coleguinhas, e que vão ter o direito de gostar de rosa, ou de usar um casado com flores. Sabendo que no fim das contas ele pode ter filhos, casar com uma moça que gosta de formula 1, sei lá. Ou ele pode ficar com caras, tantos faz, tem diferença?
No inicio foi difícil para os meus pais entenderem que eu não ia casar, que não ia ser a filha que eles idealizaram, mas não é difícil para todos os pais? E outra, tudo muda, vai que eu caso? Ai a decepção vai ser que eu não sou a sapatão que todo mundo esperava que eu fosse? Minha situação tem nada de especial, e meus problemas na verdade nunca foram problemas! Assim como ter um filho que foi estudar dança ao invés de medicina não é um problema. Assim como não é um problema se separar de um casamento que não da mais certo. Assim como a filha que engravida e não casa com o cara, está livre do inferno! Gente, está tudo bem!
Não me impressiona alguém que se diz sexualmente resolvido, hétero convicta, gay com certeza. Não me convence gente que tem a vida definida, e planos categóricos a serem seguidos. Tudo bem, ninguém vai fazer o que não tem vontade, mas e se tiver vontade? Acho que precisamos nos lembrar o tempo todo que o que buscamos é liberdade e que ficar presos a novos padrões vai acabar criando novos conflitos!
Sabe do que mais? Encontrei a Camila hoje, e chegamos a conclusão de que eu posso viver na terra do nunca, porque nunca nenhum cara mereceu namorar com ela!
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