quinta-feira, 24 de março de 2016

des-espera.

o choro dela não é por você.
o esforço, o suspiro, o jeito arrastado,
as palavras, o eufemismo, a poesia,
nada disso tem você de pano de fundo.
as musicas que ela escuta, o olhar deprimido.
não é você quem ela encontra no pensamento perdido.
no fim das contas ela não está mais te esperando,
você não é mais a causa da insônia
e tão pouco será a solução do problema.
num golpe lento você a deixou pensar que sim
por medo dos danos e machucados,
por pena, por dó talvez.
mal sabia que ela prefere morrer
num bruto golpe honesto,
que definhar com mentiras e esperas.
a quanto tempo você a manteve esperando?
quanto tempo achou que ela esperaria?
é preciso que alguém te diga que
ela terminou o relacionamento com a espera,
e agora vai se apaixonar, se entregar e amar
apenas o que como ela já não pode mais esperar.


quarta-feira, 23 de março de 2016

roseira

Num canteiro bem cuidado,
com alecrim e manjericão,
a beleza se fez na terra
botão, por botão.

Brancas, vermelhas, amarelas,
guardadas por espadas de ogum,
inspirando romances e poesias
no emaranhado de caules e folhas,
suaves pétalas surgiam.

Mas como o destino se faz variar,
um dia uma rosa amarela,
pela violeta se viu apaixonar.

rosas apaixonadas,
cheias de espinhos
temendo se machucar.
Do medo o cuidado,
do cuidado o fim amargo.

Colheram rosas brancas para simbolizar a paz,
vermelhas para a paixão de um rapaz,
as amarelas aos orixás
e as violetas ficaram mas sem amor murcharam.

Quem plantaria uma roseira?
Uma perto de uma cachoeira,
para Oxum abençoar
que um amor tão genuíno
pudesse ali reencarnar,
sem o medo de uma guerra começar.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Quem está ai?
Eu caminhava por tantos lugares em busca de companhia, em busca daquilo que me completasse. Fui aos becos e aos vales, ao alto da montanha e me banhei no oceano. Nos olhares os mistérios, nos sorrisos os desabafos, quem está ai? No pouco que me diziam, procuravam me mostrar quem estava lá, eu estava, mas não me enxergava. Eu ia com eles, e seguia as oportunidades, quem está ai também possui tantas vontades? Experimentei os sentimentos, os sentidos aguçados, o corpo sendo testado, para que eu pudesse vivenciar. Do amor eu me esquivava pois era professor também da escuridão, do apego da matéria, da dor da ilusão. Me afastava, me repelia, quem está aqui? Esperava o prazer de infinita companhia, de sono dividido, de jantares preparados, de problemas resolvidos, de prazeres escondidos nas quatro paredes em que finalmente me entregava. Descansava da incessante busca exterior, enfim só, a sós me encontrei em mim, dormindo em calor preguiçoso após o gozo dessa solidão sem fim.