O tempo parecia voar, tamanha a velocidade das manifestações atraídas pelos meus pensamentos; Que delicia projetar, sonhar, pena que não duravam as expectativas e me sobravam frustrações ao constatar que todos os outros se mantinham anestesiados, mascarando a dor e se mantendo distantes o suficiente para jamais terem que sentir nada. Eu costumava curtir e aproveitar, sentir e não saber negar, dizer sem querer dizer, me esforçando pra disfarçar, mas sempre garantindo para o conforto de todos que eu não iria ganhar.
Afinal, aprendi que pra alguém ganhar, alguém sempre tinha que perder e escolher é perder, não é mesmo? Nunca quis jogar, nunca me animei em competir, eu esperava um mundo onde os nossos sonhos pudessem coexistir, mas certamente o mundo ainda não era esse. Meu espírito cheio de valores diferenciados, se prontificava como voluntario, arrogante e prepotente, se sentindo forte o suficiente pra perder mais essa e mais outras. Poderia ser só nobreza de alma, dizendo que a felicidade do outro era mais importante que a minha felicidade, mas no fundo eu apenas temia que jamais pudesse ganhar. Quando me dei conta de que este seria o cenário, e que eu assistiria de camarote outras pessoas vivendo todos os meus melhores sonhos no meu lugar, senti a primeira contração;
Não tinha como não ser insuportável, não tinha como ser leve, por mais nobres que fossem meus ideais, as minhas dores eram viscerais, eram dores de parto, do meu próprio parto.
Não poderia lutar contra a natureza, e ela estava impondo que eu já estava no ponto; havia acabado a fase de reclusão, de projeção e sonhos, era hora de voltar a viver! Por mais que o meu corpo quisesse permanecer confortável, longe dos erros, o pensamento já tinha escapado e um pensamento assim ninguém tinha o poder de frear, era o fim de uma gestação. Estava nascendo de mim mesma e as contrações do ventre que agora era sufocante, me empurravam mundo afora, mundo este que eu não queria fazer parte.
Mesmo a contragosto, eu via a luz no fim do túnel e havia coragem nela; haviam novas ferramentas de uma desconstrução pesada que ainda me acompanhava; havia muita vida pela frente; havia um pouco mais de paciência e uma crescente gratidão por todas as coisas, principalmente as doloridas, solitárias e difíceis. Enfim me entreguei e fui com fé, ainda a tempo de constatar que o próprio amor talvez fosse um parto, e que talvez alguém estivesse me esperando fora da minha zona de conforto, aguardando ansiosamente a minha hora de chegar, com um amor genuíno que pousaria os olhos em mim e diria sem falar: "Bem vinda, não aguentava mais de tanto te esperar!"
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