terça-feira, 28 de julho de 2015

tem tempo, ritmo, instrumento

Eu tinha menos de dez anos quando resolvi que queria aprender a tocar violão... uns 15 anos atrás.
Meu pai tinha uma banda, a minha mãe odiava, as musicas próprias eram ótimas, melancólicas e chicletes.
Ninguém queria me ensinar, meu pai nunca foi um cara paciente, mas aprendi uns nirvanas e uns metallicas e depois de muito encher o saco tocando os mesmos riffs, consegui convencer meu pai a me colocar pra fazer aula. Fiz exatos dois meses de aula com uma mulher meio doidinha que morava no final da rua, desistente que sou, não curti estudar violão... mas possivelmente a culpa foi do cheiro de xixi de gato... enfim, esses dois meses me renderam aprender as notas básicas, ler partitura como uma semi analfabeta e também me garantiu "roubar" o violão do meu avô por muitos anos. Como era muito preguiçosa meu acorde favorito virou o Em, seguido do Am. Minha primeira musica tinha essas duas notas.. eu basicamente tocava elas e falava o que vinha na minha mente... eu faço isso até hoje, quase todas as minhas musicas tem Em e Am!
Lembro que a primeira vez que cantei foi porque meu primo me convenceu a ir me apresentar com ele na escola dele, eu devia ter uns 12, a gente cantou bring me to life... foi ridículo, nunca vi cena pior sem nem estar vendo... mas não me arrependo desse momento de suicídio social.
Eu ligava pra minha melhor amiga, a Ana, e ficava cantando coisas aleatórias como "mata, mata,mata,mata.. televisão".
Com 14 anos ganhei uma guitarra, conheci o Junior, ele me ensinou umas notas punks e dai em diante minha vida nunca mais foi a mesma. Ele também instalou uns programas muito doidos de gravação e gravou uma musiquinha que eu tinha feito que dava um belo HC "sair correndo por ai, fechar os olhos me divertir"...
Com 15 eu tocava muita Cassia Eller, as meninas que curtem minas adoravam, era uma graça mas tocava muito mal. Sempre toquei mal, por isso comecei a fazer musicas, fazia meus riffs, decorava, treinava e tudo que era meu parecia melhor tocado do que tocar o que era dos outros... Mais pro fim do ano meu pai me colocou na banda dele, achei bem feito porque meu melhor amigo na época, o Mario.. não quis me colocar na banda dele que tava ficando famosa... não que ele não tivesse razão, eu tocava muito mal mesmo...
Toquei no sigilo um tempão, fiz varias musicas legais e depres... Muita coisa boa me aconteceu por causa disso, toquei por quase toda SP, nos picos mais daoras... mas eu era muito adolescente e queria me rebelar, principalmente das coisas oks...
Ai pulei fora do Sigilo, fui pra Fornoiche que era bem ruim, mas tinha umas letras bem daoras... depois teve Comigo, depois teve muita coisa.. a ultima foi Calêndula...
Eu desisti muitas vezes, me convenci que eu não tinha talento o suficiente, que meu dom não era natural o suficiente, que não era boa o suficiente, que precisava de muito mais, que ninguém ia curtir o que eu tava fazendo nunca, que era muito difícil.. enfim, eu desisti muitas vezes... mesmo assim a musica sempre foi a minha melhor arma, minha melhor ferramenta de expressão e mesmo desistindo eu nunca desisti realmente, o menor grão de areia que ficou ainda machucava.
A musica virou minha maior ferida, minha mãe nunca entendeu, nem aceitou, nem curtiu a ideia de que eu fosse atrás disso.. sempre precisava de algo na frente, toda uma ideia empresarial da vida, a musica sempre teria que ser o ultimo plano... meu pai botava uma fé mas não botava, mandou eu me virar, mesmo sabendo que sou insegura.
No meu primeiro trabalho com ayahuasca eu chorava, eu perguntava pelamordedeus, o que eu tinha que fazer da vida... era isso que meu coração mais queria, mas meu Deus, como era longe, difícil, bastava eu aceitar? E pra convencer o mundo que era isso e que eu tinha que ter uma chance real?

.. tem tempo ainda... tem ritmo... tem meu tempo.. tem minha hora.. deve ter um merecimento.. ainda quero aprender outro instrumento... ainda quero viver com a musica na mão, cantando com meu coração, ainda quero ser livre pra cantar, sem me preocupar se sou melhor ou pior... eu só preciso expressar, que é isso que eu amo, que eu sou mais feliz assim, que minha existência tem sentido por isso... então respira, concentra e deixa fluir.

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