Amanheceu na rua Augusta e os mortos-vivos entocados nas baladas, sinucas e botecos subterrâneos começavam a sair. Cinco horas da manhã é o horário dos fanfarrões, sete horas da manhã é o horário dos azarões! Quando todos se vão, esgotados de tanto dançar, bêbados demais pra conversar, ou com tesão demais para não ir pra casa transar, sobram na rua os azarões. Os azarões são distintos, alguns são viciados, outros são apenas alcoólicos, mas em uma grande maioria são apenas as crianças que ainda esperam alguma coisa, que acham que tudo o que a noite não os proporcionou pode mudar nas primeiras horas de um novo dia.
Ele saiu de dentro do bar pra fumar um cigarro, a luz nos olhos chegava a doer. Era pequeno e cabeludo, e nessa hora já tava doido, maluco mesmo. Mas era um maluco diferente, tava bagunçado com as ideias, mas era gentil, e a loucura toda estava causando uma tremenda coragem.
Então viu uma menina, a mesma que tinha visto antes de entrar. Não tinha tido coragem antes, mas agora tava tão doido que resolveu arriscar:
-Oi, desculpa interromper a conversa de vocês, mas é que eu realmente te achei muito linda e queria te conhecer.
-Ah, que fofo, mas sabe o que é? Não fico com caras.
-Ah, tudo bem.. Posso te dar um beijo na bochecha então?
-Pode!
Poderia ter ficado por isso mesmo, mas ele tava maluco, e ao invés de ir fumar o cigarro longe, virou pra amiga da menina e desabafou:
-Acho que ela beija caras sim. A primeira menina que crio coragem pra chegar hoje e levo um fora.
O que aconteceu a seguir é difícil de explicar. Se encontrava a frente do garoto, uma menina muito mais alta que ele, muito mesmo, que falava articuladamente, e cujo a voz batia no peito e causava sensações profundas. Mas o mais importante, os olhos! Tinha os olhos muito negros, tais como eram os dele.
Uma conexão muito forte aconteceu.
Ela respondeu:
-Mas por que não chega em outras? Não pensa assim, você é bonito, tem muitas qualidades, você só tem que aceitar isso. Se você enxergar, as outras pessoas também vão.
Tudo que ela dizia, trazia paz, cada palavra! Até mesmo um discurso maluco dos deuses que ela acreditava. Ele não chegava a abrir a boca, só concordava com os olhos. Enquanto ela continuava a falar, ele começou a se sentir como se tivesse achado tudo o que precisava. Até o signo dela combinava com o dele, ela era libra, e apesar de falar que tinha passado por vários quadros de depressão, estava ajudando que era uma beleza.
Ele pediu um segundo, a puxou pela mão pra perto de um degrau, subiu nele e disse:
-Posso te dar uma coisa?
E deu um beijo nela! Foi doce, cheio de energia boa. Ela agradeceu, disse que na outra semana queria ver ele cheio de coragem, sabendo que podia e que devia chegar, não na menina mais bonita, mas na que fosse a melhor pra ele.
Ele disse que já tinha achado, a abraçou e disse que ela era demais. Estava tão frágil, tao bagunçado das ideias, e a companhia dela parecia curar tudo. Acabou pedindo pra ela acompanhar ele até o metro.
No meio do caminho lembrou do quanto estava doido, e de que toda aquela sensação provavelmente iria embora no dia seguinte. Surgiu um leve arrependimento de toda cena que havia criado.
Eles trocaram telefone, mas provavelmente nunca vão se ligar...
Engraçado, porque uma das coisas que ela disse, é que ele iria tentar, e tentar e tentar com muitas pessoas, e nenhuma seria a pessoa certa. Até que um dia, ele acharia uma pessoa, e essa unica pessoa faria tudo fazer sentido!
história adaptada, quase real
ResponderExcluirhahahaha, só trocar a ordem dos sexos das pessoas e fica praticamente real!
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