quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Lembra da primeira vez que o amor te curou

Quanto mais me concentrava, mais me sentia uma criança.
Eu tava é com medo da bronca, e eu tinha certeza que ia levar bronca, fico me comparando em uma escala com os outros, mas de que adianta? Se não ta certo, ta errado, e se ta errado tem que ouvir. Quando minha vez chegou, ela encostou a cabeça na minha, testa com testa, fiquei um bom tempo. Olhou nos meus olhos, me perguntou o porque da carinha triste. Eu nem sabia que estava com a cara triste, mas logico que eu devia estar.
Eu disse logo a verdade, eu até tinha tentado ensaiar um discurso, mas a vergonha se esconde nos olhos e quando ela me olhava eu só conseguia falar a verdade. Então eu disse que não sabia nem o que dizer, por onde começar, que era muita coisa pra falar.
-"Eu to vendo, ta tudo assim ai dentro, querendo estourar né?". Fez um movimento com a mão, sinalizando que meu peito estava cheio.
Sem perceber, eu já chorava como uma criança, a criança chorona que sempre fui. As lágrimas caiam silenciosas, escorrendo pelas bochechas e caindo com força no chão de terra. Eu era uma criança esperando um esporro e no lugar do esporro recebi amor e carinho.
Caminhamos até o altar das almas: -"Ascende uma vela pro anjo"
E pouco a pouco levou embora, levou embora a dor, levou embora a angustia, levou a raiva, a tristeza. Disse pra eu chorar, disse pra limpar a alma, que nada daquilo era meu e e eu estava carregando como se fosse.
-"Ninguém aguenta desse jeito, isso definha uma pessoa, faz adoecer. Isso não é seu."
Eu balançava a cabeça, olhava com os olhos mareados, confirmando que naquele momento eu me libertava de tudo, tudo, tudo.



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