-Sabe essas resoluções de fim de ano, essas promessas que a gente faz?
-Sei, acho que essa esperança de fim de ano não dura, né? Logo você se esquece, larga as promessas por ai e continua igual.
E elas conversavam madrugada a dentro, eram amigas desde o colégio, mas depois da faculdade pouco se viam. Calhou desse fim de semana o namorado canalha de uma sumir e a outra estar passando por uma dessas fases depressiva transformista! Há quem pense que grandes marcos podem mudar vidas, mas em especial, as vezes os diálogos aparentemente aleatórios, são aqueles que realmente nos mudam.
-Lembra aquela festa que a gente foi no seu aniversario?
-Como eu ia esquecer? Foi a unica vez que tomei uma bala de testa, eu louca, fritando e você muito mais louca dizendo que estava me vendo rosa e que queria cuidar de mim.
-Ainda bem que não tinha celular com câmera pra todos os lados naquela época, não acredito em todas as coisas que a gente fez.
Amigos são pessoas em quem você confia, pessoas que você sempre vai ter intimidade para continuar exatamente de onde pararam. E quando duas pessoas perdidas se encontram e se identificam, o significado da amizade provavelmente cresce, e cresce pelo tamanho de merdas as quais elas sobrevivem juntas!
-Tenho pavor de lembrar de algumas coisas, mas confesso que se tivesse a oportunidade, faria tudo de novo.
-Eu acho que eu também, mas me conta, como foi que você parou? As ultimas vezes que a gente se viu achei que tinha perdido você pra sempre, você tava transtornada.
-Não sei, acho que eu já estava cansada fazia muito tempo, mas tinha medo de voltar pra vida, tinha medo por que achava que nada seria igual, e que eu nunca ia me acostumar a viver uma vida sem as fugas. A verdade é que eu sinto falta, sinto falta da sensação de sentir tudo, sinto falta do quanto me sentia viva.
-Eu sei..
As vezes o silencio basta, pois as duas ficaram quietas. Foram cinquenta segundos de puro silencio, cinquenta segundos de um comichão, um formigamento na garganta, um intestino nervoso respondendo a ansiedade, cinquenta segundos em que silenciaram um pedido de seus cérebros, cérebros que mesmo limpos guardavam registros e saudades daquele bem estar químico. O olhar passou pela bolsa, lá estava a chave do carro e os cem reais na carteira, isso dava pra comprar pó, doce e umas cervejas pra aguentar a noite. Entrar no carro seria fácil, e as duas já conheciam o caminho da biqueira. Foram cinquenta segundos, até que a da fase depressiva se levantou, acendeu o cigarro e disse:
-Sabe, acho que vou parar de fumar também..
-Já está na hora, pelo menos cigarro eu nunca fumei!
Elas riram, conversaram sobre filmes, velhos amores, e foram dividir a cama como nos velhos tempos. A preguiça emocional de ter que passar toda uma madrugada acordada as impediu de sair de casa, mesmo que fosse atras de uma fuga.
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