quinta-feira, 24 de setembro de 2015

passa a flor

Onde vai, menina? Ta com a cara florida, pele desenhada com brilho da vida, raízes e rios do sangue que te banha, natureza pura e bela que olhos nus percebem, mas não compreendem a ponto de verdadeiramente entender. Confesso que se eu soubesse o seu destino, choraria de tristeza vindo a constatar que minha presença era mero acaso e que o pra sempre pra você era tratado com total descaso. O ser humano talvez seja a polaridade do natural, não aceitamos a natureza, queremos dobra-la, doma-la, colocar em uma gaiola e ver o brilho se apagar, antes mesmo de compreender que sufocamos e matamos o que nos prendeu atenção em primeiro lugar. Colocamos esse ar de cientistas, desbravadores, descobridores, curiosos, estudantes, mas esse entender é apenas para roubar e usar seus segredos em artifícios. Somos o Yin sombrio do Yang da luz da vida.
Somos escuridão com um ponto de luz natural, somos massa fria que foi agraciada com um sopro de vida, contrários a tudo, buscamos sempre ser artificiais.
Mal brota a flor e logo vem alguém colher, roubar-lhe a vida para possuir sua beleza. Para que se contentar em apenas contemplar a beleza infinita de um ser? Alguns de nós apenas nos entregamos ao desejo de possui-las... como sofrem as flores com esse desejo descontrolado. Violentadas, desfloradas, maltratadas, a troco do doentio habito der ter a qualquer custo.
Passa na rua, linda e florida, com seu vestido de vida, e os olhos a te acompanhar. Querem todos te despir, brincar de mal-me-quer, te ver no cru do ser, descobrir o segredo da vida linda que aparenta e todos invejam ter. Dói se você passa e finge que nem vê, fere os egos ver que você só quer se querer. O mal habito de possuir reside aqui e lá, sabendo que caberia apenas a você se entregar e se doar, poderia jamais precisar escolher, sendo bela flor até o outono chegar e lhe murchar. Desapegada que é, por saber que na próxima primavera chega outra flor em teu lugar.
Resiste mais uma flor, que não se deixa ser colhida, na esperança que as flores do futuro sejam apreciadas com vida. Resista flor, não se deixe ser colhida, a natureza te deu espinhos para lhe proteger a vida.



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