Era antes da meia noite quando a gente saiu do trabalho, fui com os meninos no posto, a gente comprou uma cerveja, a noite tava incrível, dessas de sentar no meio fio e ficar falando, sentindo o ar fresco que a chuva trouxe. Conversamos um pouco no ponto, meu ônibus veio. Logo que passei meu cartão, me lembrei, consegui colocar umas musicas no celular, e sabe a quanto tempo eu não andava por ai ouvindo um som? Pensar nisso fez minha vontade de chegar em casa ficar menor, fez crescer a vontade de andar e aproveitar a noite.
Então lá estava eu no elevado, meia noite e treze, o asfalto molhado, a noite fresca, as ruas vazias, como um inicio de terça-feira prevê que se deve ser! O vazio no meio do concreto, o som aumentando no fone do meu ouvido, quando senti a emoção crescer, percebi que já estava cantando alto com a musica!
Senti vontade de abrir o braço, e correr um pouco, talvez eu tenha feito isso, mas o que asseguro é que ri, sorri, sorri e ri muito, ali andando e vivendo aquele momento!
"CORRE PRA VARANDA E VEM CÁ VER. FAÇA SOL OU CHUVA UM LINDO DIA VAI NASCER"
Eu queria que você pudesse ver a noite linda que tava, São Paulo com cara de alma lavada, o concreto dando passagem em um corredor só meu, e apesar da musica nos meus ouvidos, o que se via claramente era o silencio, o descanso e a paz instalada.
Vi nas paredes dos prédios as pichações e os grafites, pensei no como esse vandalismo nos conta historias, admirei os grupos e tribos que ali passaram por essas décadas e que souberam que a cidade era pra ser explorada, usada e abusada, principalmente de madrugada. Acompanhando as solas dos meus pés, o asfalto, diariamente gasto com os carros que vem e vão, das 6:30 as 21:30, lavado, rachado como a pele que fica velha na ação do tempo, mas fresco!
Queria que você pudesse viver isso, sabe? Ver o como o medo é herdado, geneticamente e culturalmente e que talvez se as ruas vazias estivessem cheias de gente como nós, não haveria perigo. Queria que você se desse ao luxo, de vez ou outra se arriscar, e terminar seu dia de forma diferente, de modo que saindo da rotina, pudesse ver o porque você escolheu estar vivendo nessa cidade, esse momento, essa vida. E descendo a rampa de volta ao chão, você se depararia com as pessoas dormindo na rua, e provavelmente isso te faria sentir gratidão, por tudo o que tem, ao mesmo tempo que te faria frágil a ponto de se colocar e se comparar, ver-se lado a lado, como irmãos, partes iguais desse todo, que estão apenas vivendo fases diferentes de aprendizado.
Queria que nós pudêssemos dividir alguns pensamentos, porque gostaria de dividir risadas sobre as minhas teorias malucas, ou que você pudesse apenas rir de mim, e do modo o como eu me encho de inspiração ao perceber que se exercitar é importante, mas paro no posto de gasolina na esquina de casa pra comprar cerveja e cigarro, tudo em uma questão de dez minutos. Queria ser eu mesma, não que eu já não seja, mas queria que ser assim, como já sou, fosse o suficiente, não pra todo mundo, mas pra você! Queria ter esse sentimento, de perceber no seu contentamento, que meu tênis velho e minha mochila estão mais que de bom tamanho, perceber que na verdade, isso no fundo até te agrada confortavelmente. Queria que você pudesse ver as coisas dessa forma meio encantada, queria que pudesse se apaixonar 75 vezes por dia, por diferentes coisas que passam na sua frente.
Queria sorrir na caminhada, aproveitar o inicio da madrugada, e depois de cantar junto, filosofar junto, amar junto, chegar na esquina de casa, e perceber junto, que não estamos prestes a entrar em casa, perceber que sua casa, a minha casa, a nossa casa, está longe, e que essa vida é apenas uma viagem.
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